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20 de maio: Dia da etnia italiana

José Ivo Sartori*

A Assembléia Legislativa aprovou e o Governo do Estado sancionou projeto de nossa autoria, instituindo o Dia da Etnia Italiana no Rio Grande do Sul, comemorado anualmente no dia 20 de maio. Esta data registra, no ano de 1875, o início da colonização italiana em nosso Estado com a chegada a Nova Milano dos primeiros 86 imigrantes que plantaram as raízes desta já centenária história. Vieram da localidade de Santa Catarina da Feliz, atualmente cidade de Feliz, onde estavam hospedados. Nesse percurso, foram guiados pelo índio caigangue Luiz Antônio Silva Lima. Eram as famílias dos pioneiros Tomaso Radaelli, Stefano Crippa e Luigi Sperafico. Logo a seguir povoaram-se as Colônias Caxias, Conde D'Eu, Dona Isabel e Silveira Martins das quais expandiu-se toda a colonização, até os dias de hoje, redesenhando-se a nova geografia do nosso Estado, com centenas de cidades gaúchas que delas se originaram.

A partir da terra, o trabalho assume uma dimensão mística de verdadeira redenção humana, constituindo-se na fonte da liberdade, contendo em si o sentido da dignidade e da respeitabilidade perante a sociedade, verdadeira síntese de todas as virtudes humanas.

Outro desses valores é a parcimônia, o espírito de economia que guardava o frasco vazio, o prego enferrujado, o trapo de roupa – o remendo na roupa, o tacão como se dizia –, que juntava grãos caídos e economizava os centavos. A vida difícil da Itália educara-os deste modo para poderem sobreviver, observa Rovílio Costa. Muito mais do que ser considerado uma distorção de caráter, o chamado sovinismo impunha-se como uma condição de sobrevivência numa realidade de muitas carências materiais.

A família, como núcleo de organização social e de convivência, e mesmo como base da produção econômica, foi – e ainda é – um dos elementos que traçou e traça a fisionomia da sociedade criada pelos imigrantes italianos. Se os grupos de imigrantes que vieram para cá eram de famílias, isso foi mantido e ampliado pelas altas taxas de fecundidade. Famílias numerosas, necessitadas de braços para o trabalho, desenvolveram um profundo sentido de solidariedade e apoio mútuo. Esse legado de amor e respeito à família, primeiro elemento de identificação de uma pessoa, é um traço marcante em nossa cultura, legado dos imigrantes.

A religião católica, amplamente predominante entre os imigrantes, na sua dimensão espiritual de fé e nas práticas litúrgicas, era dirigida e oficiada tanto por padres como por leigos, os chamados nostro prete, na ausência daqueles. A religião exercia papel organizador da comunidade, de controle social sobre ela e de fusão mística, que justificava o destino terreno e transcendente do grupo.

O ano de 1875, para os imigrantes, marca o encontro de duas Itálias, aquela de origem e a que passaram a construir no Brasil e no Rio Grande do Sul. Esses 133 anos remetem-nos às mais diversas formas de como os 100 mil italianos da imigração agrícola responderam aos desafios do País e do Estado, por meio da agricultura, artesanato, indústria, comércio, cultura e de tantas outras atividades.

Construindo capitéis, capelas, escolas, casas de saúde, hospitais, salões comunitários – em conseqüência da fé e da solidariedade cristãs –, abrindo clareiras para casas e plantações, estradas e picadas para o fluxo dos frutos do próprio trabalho e impulsionando povoados e municípios, deram uma face própria e definida à vida do Rio Grande do Sul, assim como hoje muitos estão fazendo em todos os recantos do território brasileiro.

Esses são alguns dos principais valores que nos foram transmitidos por nossos ascendentes imigrantes.

O sonho de fazer a América aqui foi feito. Na Serra Gaúcha, um contigente humano fundiu sonho e trabalho e fez um novo mundo. Um novo mundo humano e humanizado, com suas grandezas e limitações, mas um mundo no qual se vive com os pés no chão e o coração no céu.

Chegados há 133 anos, os imigrantes italianos desbravaram a Serra geral, cultivaram terras, edificaram cidades, construíram fábricas, e contribuíram para a formação da identidade nacional, especialmente a rio-grandense, reconhecida pela sua riqueza étnica. Em todo o grande período da imigração agrícola foram cerca de 100 mil homens e mulheres que escolheram esta terra para reconstruírem seus destinos. A sua descendência, somente no Rio Grande do Sul, chega atualmente a cerca de 2 milhões de pessoas.

Ao instituirmos o Dia da Etnia Italiana reconhecemos o mundo dos valores humanos, sociais, religiosos, culturais, econômicos e políticos que os imigrantes fizeram florescer no dia-a-dia das primeiras colônias e que hoje, integrados com os dos outros grupos humanos que nos constituem, expressam a nossa forma de pensar, de sonhar e de ser.

*José Ivo Sartori é prefeito de Caxias do Sul e o autor da lei sancionada pelo governo do Estado em 2001 que definiu o dia 20 de maio como o Dia Estadual da Etnia italiana