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A Casa de Maria: Lugar de culto por séculos

2. A casa de Maria, lugar de culto por séculos

A compensar esta desilusão, nos anos imediatamente sucessivos, uma série de descobertas provou, de maneira definitiva, que por muitos séculos a casa de Maria fora um lugar singular de culto e de veneração. Inicialmente, percebeu-se que a casa havia sido restaurada diversas vezes, embora jamais ampliada ou “melhorada”. Cada restauração fora realizada seguindo, rigorosamente, o desenho original e acima das fundações procedentes: uma clara indicação de que o próprio edifício era considerado venerável. A confirmação disso veio com a descoberta, nas cercanias, de dois sarcófagos em terracota, cada um dos quais contendo um esqueleto completo com a cabeça em direção à casa, em um gesto de respeito póstumo. Entre os ossos de um dos esqueletos, havia uma moeda israelense do reino de Constante II (641-648 d.C.); enquanto, com outro, foi encontrada uma moeda do reino de Giustianiano II (685-695 d.C.).

Mas é interessante o fato que estas não são certamente as moedas mais antigas encontradas no lugar. Sobre a mais antiga daquelas recuperadas é representada a cabeça de Anastácio I, que reinou de 491 a 518 d.C.: em outras palavras, dos sessenta anos depois de o III Concílio Ecumênico proclamar Maria Mãe de Deus, até quarenta anos antes da conclusão da grande basílica dedicada a São João. E assim a casa de Maria, enquanto parecia esquivar-se à atenção dos príncipes, tanto da Igreja quanto do Império, continuava a ser importante na vida de cristãos comuns e menos comuns, no entorno de Éfeso. 

Quem eram estas pessoas que por séculos se deram ao trabalho de preservar a casa como lugar santo? Evidentemente, os descendentes dos primeiros cristãos vividos sobre os sopés da montanha tinham ouvido como eles deveriam proteger a casa como melhor pudessem. Mas as descobertas vindas à luz entre 1894 e o inverno de 1898-1899 sugeriam também a presença de uma comunidade religiosa mais formal. Partindo das voltas em arco, colunas, mosaicos, urnas funerárias (uma continha os ossos de um neonato), canaletas da nascente, objetos de vidro e de cerâmica, vasos, moedas de bronze, lâmpadas funerárias e outros manufaturados, se chegou à conclusão que naquele sítio devia ter estado presente um monastério. Esta conclusão resultou notavelmente reforçada quando se tomou conhecimento que, em antigos registros de cadastros otomanos, a casa de Maria era sinalizada como o “Monastério a três portas da Toda Santa”. Isto podia explicar porque as mulheres do campo de fumo, encontradas pelos primeiros “exploradores”, a trataram como “monastério” e porque os habitantes do vilarejo de Kirinca chamassem a localidade de Panaghía-Capouli, a “Porta da Toda Santa”.

Estas evoluções não passaram despercebidas no Vaticano. Em 1895, o Papa Leão XIII enviou a Éfeso padre Eschbach, diretor do Pontifício Seminário Francês de Roma, para um encontro com padre Jung, a fim de inspecionar o local. Padre Jung, depois de ter acompanhado o hospede ao lugar, lhe deu algumas fotos que, pessoalmente, tinha tirado no mesmo dia da descoberta da casa, em julho de 1891. Padre Eschbach as levou consigo para mostrá-las ao papa que, de tão sensibilizado, as reteve. No mês de abril seguinte, Leão XIII declarou a casa de Maria lugar de peregrinação. No passar de um mês, chegaram ao local mais de mil peregrinos, enquanto a imprensa francesa, mesmo que tardiamente, referia com emoção as descobertas ocorridas na Colina dos Rouxinóis.

Mas a descoberta mais surpreendente estava ainda por acontecer. 

Quinta-feira 24 de agosto de 1898, às 3h30 da tarde, os operários que removiam a terra do cômodo principal da casa de Maria, inesperadamente, encontraram alguns fragmentos de mármore enegrecidos sob meio metro da superfície. Escavando mais profundamente vieram à luz outras pedras enegrecidas. Uma vez tratar-se do lugar exato onde irmã Katharina Emmerick havia localizado a lareira, os trabalhos foram suspensos até chegar de Esmirna um arqueólogo, o professor Weber, que fez um exame acurado do material descoberto. Ele anunciou que o escurecimento havia sido causado, seguramente, pela fuligem e, como era tão concentrado, a única conclusão possível era que ali, durante um tempo, tinha estado uma lareira.

Para aqueles que por anos trabalharam para salvar a habitação de Maria do esquecimento, era como se o fogo no coração daquela casa jamais tivesse se apagado. 

[continua...]

13 - A Casa de Maria: A casa hoje

Donald Carrol, A CASA DE MARIA. Uma história maravilhosa: Como foi descoberta em Éfeso a casa da Virgem Maria.

Tradução do italiano
Cláudia Rejane Turelli do Carmo

La Casa di Maria - Una storia meravigliosa: come fu scoperta a Efeso l'abitazione della Vergine Maria

Edição italiana
Edizioni San Paolo s.r.l, 2008
www.edizionisanpaolo.it 

Tradução do inglês
Paolo Pellizzari
ISBN 978-88-215-6227-3

Título original da obra:
MARY’S HOUSE. The straordinary story behind the Discovery of the house where the Virgen Mary lived and died.
Primeira publicação na Grã-Bretanha por Veritas Book, em 2000.