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Mario Russo: um arquiteto italiano racionalista em Recife

A Universidade Federal de Pernambuco está completando, em 2006, 60 anos de uma história que está indelevelmente associada a um italiano: o arquiteto Mario Russo, autor da concepção arquitetônica do campus da instituição. Na verdade, a criatividade desse veneziano está para sempre associada ao cenário de Recife, onde edificou outras obras. Por isso, Renata Campello Cabral está lançando o livro Mario Russo: um arquiteto italiano racionalista em Recife.

Russo, que permaneceu na capital pernambucana de 1948 a 1956, atuou como professor de arquitetura na antiga Escola de Belas Artes e projetou um pequeno mas significativo conjunto de obras, que hoje constitui parte importantíssima do patrimônio
da arquitetura moderna do Estado.

O livro de Renata é baseado na sua  dissertação de Mestrado que, entre outros aspectos, aborda  os segredos de ofício do arquiteto italiano - segredos vinculados à sua formação italiana de "arquiteto integral" e ao racionalismo arquitetônico. Na verdade, além de trazer discussões sobre o racionalismo para a sala de aula, Mario Russo difundiu entre seus alunos o método de projeto com base em uma visão “integral” a respeito da Arquitetura.

Chamado para projetar ara projetar a Cidade Universitária, que suscitava sentimentos de orgulho regional, Mario Russo  escreve, dois meses depois de ter chegado à cidade, um artigo intitulado “Primeiras impressões sobre o Recife”, no qual demonstra ser contra qualquer tipo de atitude historicista e a favor de uma arquitetura que expresse o “espírito do tempo”:

[...] O novo modo de vida da sociedade, os sadios princípios econômicos e enfim as novas possibilidades que nos oferece a técnica moderna constituem, sem dúvida, complexas razões que impõem a mudança das formas arquitetônicas. Na metade do século XX torna-se necessário falar a linguagem arquitetônica com maior lealdade e também eliminar todos os prejuízos que já desapareceram nas recíprocas e usuais relações entre os homens.

Entre suas obras, como acentua um trabalho de alunos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de da PUC de Campinas, destaca-se a Casa 675 ( já demolida, vítima da sanha imobiliária), uma das mais altas realizações da poética racionalista na arquitetura pernambucana, e que incorpora influências de vertentes do Movimento Moderno que são observadas com pouca freqüência na arquitetura moderna brasileira.

Sob este aspecto, a Casa 675 é singular: além da natural influência da obra de Le Corbusier, a obra de Russo incorpora influências do Neoplasticismo holandês e do Racionalismo
da Bauhaus. A sutil decomposição do volume prismático em planos que se projetam no espaço, a ortogonalidade absoluta, a economia de meios plásticos, a redução da composição aos seus elementos essenciais, são características da casa em questão que evidenciam influências da arquitetura de Gropius, de van Doesburg e Rietveld, que provavelmente chegaram até Russo pela obra de arquitetos racionalistas italianos como Terragni.

Na obra de Russo estas influências européias são adaptadas ao contexto local. Esta é provavelmente a qualidade mais importante da Casa 675, que constitui um exemplo feliz de adaptação da linguagem internacional da arquitetura moderna às peculiariedades da nossa cultura e do meio ambiente tropical.