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Eleitores italianos no exterior: curral eleitoral globalizado?

Em meio ao ufanismo incontido  de setores da imprensa favoráveis à coalização de centro-esquerda liderada por Romano Prodi, tão parcial e obtuso quanto às reações dos comunicadores defensores da centro-direita de Silvio Berlusconi, o resultado das eleições na Itália continua produzindo efeitos entre perdedores e vencedores. Agora, o ministro para os Italianos no Exterior, Mirko Tremaglia, passou a defender a tese de que o pleito envolvendo os italianos residentes em outros países deveria ser repetido. Mas essa possibilidade foi prontamente rechaçada pelo juiz eleitoral responsável por essa circunscrição.

O ministro justificava sua posição assinalando, entre outros aspectos, que 10% dos eleitores nem ao menos receberam o kit para votar e, por isso, não puderam exercer o seu direito. De fato, essa falha pode ser facilmente verificada entre os cidadãos italianos residentes no Brasil, por exemplo, onde são incontáveis as reclamações. De prefeitos de cidades do interior do Rio Grande do Sul a moradores de São Paulo, as reclamações se sucederam mesmo antes da realização do pleito, sem que nenhuma medida tenha sido tomada. Só não se sabe se foi por incompetência ou por outra razão.

Mas, independente dessa questão, também é preciso considerar que menos de 50% dos italianos residentes no exterior votaram. No Brasil, o percentual foi um pouco superior a 30%, enquanto na Argentina e na Venezuela os números chegaram a pouco mais de 50%. Naturalmente, é preciso considerar que essa foi a primeira experiência, com todos os problemas e imprevistos naturais dessa circunstância. Mesmo assim, os índices foram muito baixos.

Há quem esteja avaliando entusiasticamente a participação dos cidadãos italianos no exterior no processo eleitoral da Itália. Alguns até acham que o fato pode até  marcar uma nova era na política mundial. No entanto, a prudência recomenda no mínimo uma certa cautela. Afinal, nem mesmo os próprios candidatos eleitos têm uma exata noção de como vão agir, a começar pelo fato de que não moram na Itália. Vão ir e vir, quem pagará as despesas dessas incessantes viagens?

Uma matéria divulgada no jornal La Repubblica na quarta-feira(12) acentuava o aspecto de que o voto dos italianos no exterior teria sido um “gol contra” do ministro Tremaglia em relação aos interesses da situação. Ora, não é preciso ter muito conhecimento dos meandros políticos para se cogitar inclusive a possibilidade de o eleitorado italiano no exterior correr o risco de se tornar um curral eleitoral multinacional, acobertado pela cantilena da democracia, da participação, etc. Seja para a direta, seja para a esquerda. Assim como o nordeste brasileiro.

Nessa primeira refrega, o exterior já "fez os seus estragos", decidindo de certa forma a eleição. Por isso é certo que, no próximo pleito, os caciques partidários deixem a sua soberba e empáfia, não muito incomum entre alguns natos, e se atirem com mais sede na conquista desses votos.

Pórém, objetivamente não será muito fácil, além das querelas partidárias, para os seis senadores e os 18 deputados eleitos defenderem os interesses dos italianos no exterior – pouco definidos nas plataformas dos candidatos – em meio a uma imensa maioria de colegas mais preocupados com os seus interesses locais. Tudo isso ainda precisa ser colocado à prova. O importante é que os italianos residentes no exterior não se deixem levar pela fanfarronice e o ilusionismo midiático tão comuns na política, seja no Brasil, na Itália ou em qualquer outra parte do mundo. (JAZ)