A visita de Prodi: em busca do tempo perdido

Será necessário muito mais que sorrisos protocolares, palavras de ordem otimistas, assinaturas de convênios e acordos pro form se o Brasil e a Itália quiserem, efetiva e objetivamente, incrementar suas relações comerciais, aprofundar suas trocas culturais,  científicas e tecnológica a partir da breve visita de dois dias ao país do primeiro-ministro italiano e sua comitiva. Na verdade, está nas mãos de dois políticos de centro-esquerda – Romano Prodi e Luiz Inácio Lula da Silva – liderar a reversão de um processo, especialmente no âmbito da economia de mercado, cujos indicadores deixam a desejar.

Os discursos promissores que foram feitos no ano passado, por ocasião de dois encontros empresariais, um na Itália e outro no Brasil, não passaram disso. Pois logo que iniciou o ano de 2007, os organismos que tratam do comércio exterior de ambos os países apontaram suas prioridades, os principais destinos que seriam focados. Tanto o Brasil não elencou a Itália quanto a Itália não elencou o Brasil.

Agora surge novamente uma luz no fim do túnel – ou da mesa de negociações. Afinal, quem lembra a última vez que um chefe de Governo da Itália esteve no Brasil? Aliás, Romano Prodi e equipe, com destaque para o ministro do Exterior, Massimo D’Alema - têm deixado claro o interesse em voltar a olhar com mais atenção para a América Latina, território onde vive  o maior número de descendentes dos italianos que emigraram no final do século XIX e início do século XX.

No entanto, para além de relações calcadas em afetos e sentimentalismos, o pragmatismo das relações comerciais em um mundo globalizado sinaliza a região como alvissareira para os europeus, entre os quais os italianos. Tanto para contar com as suas matérias-primas – mantendo a tradição iniciada com a descoberta dessas terras – como para investir.

Por enquanto, a Itália está perdendo a corrida para outros países europeus, como a França e a Alemanha.  As relações Brasil-Itália estão em um patamar apenas razoável se for considerada a potencialidade. Basta analisar as planilhas oficiais.

Se for verificado o montante, em termos de valores, percebe-se um crescimento, tanto nas exportações quanto nas importações entre os dois países. Os dados disponibilizados pelo Ministério da Indústria e Comércio indicam que o Brasil exportou para a Itália, em 2006,  US$  3.828.916.822, enquanto no ano anterior o volume chegou a US$ 3.223.637.321 – uma variação de +18,78%. Por outro lado, em 2006 o Brasil importou US$ 2.569.627.238, enquanto em 2005 a cifra ficou em US$ 2.276.241.495 – uma variação de mais +12,89%.

Apesar desse crescimento em números absolutos, outra tabela  aponta um dado revelador e altamente preocupante: o intercâmbio comercial do Brasil com a  Itália vem caindo permanentemente nos últimos anos, seja em termos de exportação, seja em termos de importação, quando se mensura o seu percentual de participação no total do comércio exterior brasileiro.

Em termos de exportação, desde o primeiro ano disponibilizado na série, 1985, registra-se queda. Naquele ano, a exportação para a Itália representava  4,48% do total negociado pelo Brasil. A partir daquela data, sucessivamente, ano após ano, o percentual vem caindo, chegando em 2006 a 2,79%.

Quanto às importações, a importância da Itália para o Brasil vem caindo desde 1990, quando o percentual de participação chegou a  3,30%, sendo que desde então o maior percentual se registrou em 1994, com 6,23%. Em 2006, a participação da Itália nas importações brasileiras chegou a 2,81%, o que determinou que o país se posicionou em 10º entre os principais países fornecedores do Brasil.

Sob o ponto de vista italiano, apesar de o Brasil ser o principal parceiro econômico na América do Sul, inclusive em termos de investimentos, quando se analisa o peso da participação o número que surge é quase insignificante. Conforme dados do Ministério de Comércio Exterior, o Brasil é responsável, em termos de valores, por 0,7% do volume total exportado pela Itália. Em 2006, sobre o montante de recursos movimentado, houve um incremento de 19%, quantia insuficiente para alterar de forma significativa o percentual da participação do Brasil.

Enfim, como registrou no ano passado o presidente da Fiesp, durante rodadas de negócios entre empresários dos dois países, que se encontraram primeiro no Brasil e depois na Itália, o saldo do comércio exterior da Itália é de US$ 600 bilhões e a participação brasileira não chegava a US$ 4 bilhões, para ele quantia bem aquém do seu potencial. Paulo Skaf projetava um objetivo: aumentar a corrente comercial entre os dois países para US$ 10 bilhões até 2010 –  em 2006 esse número chegou perto de US$ 6,5 bilhões.

O que mais o Brasil importou para a Itália foi café torrado não descafeinado em grão, seguindo-se outros produtos como minério de ferro, aglomerados de madeira, soja e assim por diante. Nada com muito valor agregado. Já os principais produtos italianos exportados    para o Brasil  foram máquinas e aparelhos mecânicos (38%).