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Datação do Sudário de Turim poderia estar errada?

E lá vamos nós de novo... Desta vez é pelo periódico científico britânico "Archaeometry” - edição de março - que reaparecem acusações de fraude sobre a datação no Santo Sudário, tentando desacreditar as pesquisas de 1988 que o revelaram como da Idade Média. Assim, alguns cientistas franceses e italianos (Universidade da Catânia), por meio de seu responsável, Tristan Casabianca, alegam que os resultados haviam sido analisados sobre remendos do linho – e não sobre o pano em si. Deixando-se as paixões de lado, vamos aos FATOS:

A datação pelo carbono-14 em 1988 apontou para a fabricação do pano entre 1260 e 1390 - o quê, prontamente, inviabiliza sua origem paleocristã. Estes procedimentos foram orientados pela própria Igreja Católica com o Museu Britânico e conduzidos por três dos mais confiáveis institutos científicos e tecnológicos do mundo: as universidades de Oxford e de Tucson (Arizona), e o Instituto de Tecnologia de Zurique. De forma que ninguém das análises científicas soubesse, também lhes foram entregues fragmentos de mais três objetos antigos já bem documentados, a fim de que se aumentasse o grau de confiabilidade sobre o resultado do exame do Sudário: um linho de uma tumba cristã de Qasr Obrim (Egito) dos séculos XI-XII; mais um de outra tumba de Tebas do ano 75; e alguns fios do manto de asperges de São Luís d’Anjou (Basílica de Madalena em Saint-Maximin-la-Sainte-Baume, França), século XIII. O resultado das datações deu totalmente correto para os três.

Curiosamente, ferozes questionamentos se seguiram à validação dos testes sobre o manto de Turim – algo que não ocorre com a imensa maioria das peças arqueológicas e/ou históricas extra-bíblicas... A pretensão dos defensores do Sudário (enquanto relíquia) é sempre anular o método do carbono-14 por sua suposta imprecisão diante das tantas impurezas depositadas no lençol e em decorrência dos dois incêndios aos quais o pano esteve exposto, em 1516 e 1532. Vejamos o que pensava o “Pai da Microquímica Moderna”, o americano Dr. Walter C. McCrone:

“A ideia de que o incêndio de 1532 em Chambery tenha alterado a data do tecido é risível. Amostras para datação por carbono são inteiramente queimadas e transformadas em CO2 como parte da purificação. E a sugestão de que contaminantes biológicos modernos sejam suficientes para atualizar a data também é patética. Seria necessário um peso de carbono do século XX correspondente ao dobro daquele do Sudário para se alterar uma data do primeiro século para o 14. Além disso, as amostras do tecido de linho foram limpas com muito cuidado antes da análise em cada um dos laboratórios.”

E, finalmente, sobre a alegação de que os fragmentos retirados para as análises pertenciam a remendos no material original, já em 1989 a “Nature” confirmava o óbvio: Uma equipe altamente qualificada de peritos em tecelagem deteve-se especificamente para selecionar a região donde se extrairia a amostra do radiocarbono FORA DE REMENDOS E COSTURAS. Convenhamos, imaginar que estes profissionais, gabaritados com o que há de melhor, pudessem conduzir o exame sem considerar a questão dos remendos – algo que qualquer aluno do ensino fundamental evitaria nos experimentos de química - é passar um tremendo atestado de idiota a cada um. Se há insinuação de má fé contra os mesmos, é só imaginar o suicídio acadêmico que este pessoal estaria praticando a troco, exatamente, do quê? Riqueza??.. Ostentação e alto luxo não são exatamente atribuições corriqueiras na vida de cientistas. Curioso que quando esta mesma Ciência “a serviço do Mal” confirma historicamente alguma informação bíblica (a data do mandato de um rei, por exemplo), segmentos específicos da sociedade correm para alardear aos quatro cantos o quão "precisos são" seus textos sagrados, fonte de sua fé. Para qualquer um com mínimo grau de razoabilidade, pode-se acreditar que o assunto “idade do Sudário” já esteja encerrado.

O Prof.Átila Soares da Costa Filho é designer, especialista em História e Antropologia e autor de “A Jovem Mona Lisa” e “Leonardo e o Sudário” (Rio de Janeiro). Também é co-autor dos livros “Leonardo da Vinci’s earlier Mona Lisa” (Zurique, Suíça) e “Mona Lisa: new perspectives”(Universidade de Santa Bárbara, Califórnia).