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Enxaguante bucal é potencial redutor da transmissão de coronavírus

Evidências teóricas apontam que, ao destruir a camada lipídica que envolve o vírus, o enxaguante bucal tem potencial para proteger contra infecções, antes de serem atingidas as células humanas.

Um grupo internacional de pesquisadores pediu uma pesquisa urgente, a fim de verificar se o enxaguante bucal, disponível no mercado, pode ser eficaz na redução da transmissão do SARS-CoV-2. 

O pedido foi feito após uma revisão de pesquisas científicas, visando avaliar se o enxaguante bucal é capaz de reduzir a transmissão do vírus, nos estágios iniciais da infecção. Os resultados desta revisão estão relatados no artigo “Potential role of oral rinses targeting the viral lipid envelope in SARS-CoV-2 infection”, publicado na última quarta-feira (14), na Function, plataforma de artigos sobre ciências médicas da Universidade de Oxford. 

O trabalho foi realizado no âmbito da Faculdade de Medicina da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, juntamente com as universidades de Nottingham, Colorado, Ottawa, Barcelona e o Instituto Babraham de Cambridge. Participaram virologistas, especialistas em lipídios, microbicidas e especialistas em saúde, enquanto os parceiros da indústria forneceram informações sobre a formulação global de produtos. O estudo foi liderado pela professora Valerie O'Donnell, diretora da Divisão de Infecção e Imunidade e Co-diretora do Systems Immunity Research Institute  da Faculdade de Medicina na Universidade de Cardiff e membro da Academia de Ciências Médicas no Reino Unido

O SARS-CoV-2 é um vírus envolto por uma membrana externa de lipídios (lipídios), mas os pesquisadores disseram que, até agora, "não houve discussão" sobre o possível papel de danificar essa membrana como uma maneira possível de inativar o vírus na garganta.

Segundo a professora O'Donnell, estudos anteriores mostraram que agentes comumente encontrados em enxaguantes bucais, com baixas quantidades de etanol, iodopovidona e cetilpiridínio, podem atrapalhar as membranas lipídicas de vários vírus envolvidos. Ainda não se sabe, no entanto, se esse também poderia ser o caso desse novo coronavírus.

Os pesquisadores avaliaram as formulações de enxaguantes  bucais existentes, quanto à sua capacidade potencial de romper o envelope lipídico da SARS-CoV-2 e sugeriram que várias delas merecem avaliação clínica. "Destacamos que pesquisas já publicadas sobre outros vírus envelopados, incluindo coronavírus, apoiam diretamente a ideia de que são necessárias mais pesquisas sobre se o enxágue oral pode ser considerado como uma maneira potencial de reduzir a transmissão do SARS-CoV-2", disseram os autores. Eles também afirmaram que a pesquisa para determinar o potencial dessa abordagem pode incluir a avaliação de formulações existentes - ou especificamente adaptadas - de antissépticos bucais no laboratório e depois em ensaios clínicos. Segundo eles, ensaios populacionais monitorados podem ser realizados com marcas apropriadas disponíveis no mercado.

A professora Valerie O'Donnell disse: “O uso seguro de enxaguante bucal - como no gargarejo - até agora não foi considerado pelos órgãos de saúde pública do Reino Unido. Em experimentos com tubos de ensaio e estudos clínicos limitados, alguns enxaguantes bucais contêm ingredientes virucidas conhecidos o suficiente para atingir efetivamente lipídios em vírus envelopados semelhantes”.

“O que ainda não sabemos é se os enxaguantes bucais existentes são ativos contra a membrana lipídica da SARS-CoV-2. Nossa revisão da literatura sugere que é necessária uma pesquisa urgente para determinar seu potencial de uso contra esse novo vírus” - afirmou. "Esta é uma área sub-pesquisada de grande necessidade clínica - e esperamos que os projetos de pesquisa sejam rapidamente mobilizados para avaliar ainda mais isso".

A professora O'Donnell acrescentou: “O enxaguante bucal ainda não foi testado contra esse novo coronavírus. As pessoas devem continuar a seguir as medidas preventivas emitidas pelo governo do Reino Unido, incluindo lavar as mãos com frequência e manter distância social. Este estudo sugere que outros estudos clínicos podem valer a pena com base nas evidências teóricas.”

A pesquisa foi financiada pelo Conselho Europeu de Pesquisa, Wellcome Trust, British Heart Foundation, Royal Society and Medical Research Council. (Redação oriundi.net com informações da AGI (Agenzia Italia) e da Cardiff University UK)