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Carnaval italiano: muita alegria. Com arte

É certo que o carnaval de Veneza é o mais famoso da Itália, mas isso não quer dizer que a festa não movimente outras regiões do país. Como no Brasil, as manifestações são mais expressivas em algumas comunidades mas, de uma maneira geral, na maioria das regiões se comemora o carnevale. Seja na Toscana, em Viareggio; na Lombardia, em Bagolino; ou na Sicília, em Corleone, ou então em grandes centros como Milão, Florença ou Turim, os italianos se soltam com muita alegria, e com muita cultura, nos dias de folia.

Na verdade, a percepção italiana do carnaval contemporâneo, especialmente em alguns lugares (Veneza e Firenze, por exemplo) consegue fazer dos dias profanos e quase sem limites um período em que a arte e as manifestações artísticas tradicionais e consolidadas, e não impostas por um marketing televisivo, têm um amplo palco para chegarem até a população. Quer dizer, para além de um momento de extravasamento, o carnaval efetivamente tem um sentido de envolver o popular com o cultural.  

No segundo domingo de carnaval, a central operativa da Polícia municipal de Veneza calculou que chegaram mais 110 mil pessoas na cidade, que apresenta uma programação carnavalesca que inclui desde apresentações musicais até espetáculos teatrais e os desfiles, especialmente na praça São Marcos, dos anônimos e luxuosos mascarados e mascaradas. Confira a animação em http://www.carnevale.venezia.it/

Enquanto em Florença o carnaval é dedicado à multietnicidade, também com uma intensa programação cultural, em Viareggio se celebra, durante todo o mês, com festas diurnas e noturnas, a folia. O carnaval da cidade se destaca na Itália e na Europa especialmente pelos concorridos corsos, desfiles de carros alegóricos que fazem uma animada disputa em várias categorias.

Origem italiana

Segundo alguns historiadores, a origem do carnaval é incerta e parece estar ligada remotamente a alguma comemoração pagã pela passagem do ano ou a chegada da primavera; é possível que se origine também das festas da Roma antiga. Considera-se o carnaval uma festa caracteristicamente italiana, pois todo seu desenvolvimento está ligado à Itália (Roma, Florença, Turim e Veneza). Roma foi o maior centro de difusão, pois era lá que aconteciam os famosos desfiles de corso.

As primeiras referências ao carnaval estão relacionadas à festas agrárias. Essas festas se realizavam na primavera, quando as pessoas saíam das cavernas em que se protegiam o severo frio e comemoravam com cantos e danças o tempo que se assemelhava à primavera. Celebravam a alegria de poder ver o sol, de plantar,  ter alimentos e espantar as coisas ruins.

Em Roma, havia a Saturnália, em homenagem a  Saturno, deus da agricultura dos antigos romanos. Dizem as lendas que Saturno pregava a igualdade entre os homens e foi quem ensinou a arte da agricultura aos italianos. Expulso do Olimpo, Saturno chegava com na primavera e era saudado com festas e um período de liberação das convenções sociais. Durante as Saturnálias os escravos tomavam os lugares dos senhores. Não funcionavam os tribunais e as escolas. Os escravos saiam às ruas para comemorar a liberdade e a igualdade entre os homens, cantando e se divertindo em grande desordem. Essas festas aconteciam de 17 a 19 de dezembro.mas, com a reforma do calendário e a inclusão de mais dois meses, julho e agosto, em homenagem aos imperadores romanos Júlio Cesar e Augusto formam transferidas para fevereiro.

Há relatos de que no tempo das Saturnais todos os participantes e os escravos podiam dizer verdades a seus senhores indo até ao extremo de ridicularizá-los do jeito que bem entendessem.

No século XVIII, um novo modelo de carnaval (pós-moderno) começa a se delinear, fixando-se nas cidades de Nice, Roma e Veneza e irradiando-se para o mundo inteiro. Esse modelo de carnaval é o que ainda hoje identifica a festa, com mascarados, fantasiados e desfiles de carros alegóricos e que muitos autores consideram o verdadeiro carnaval.

A Igreja e o Carnaval

A Igreja Católica e o Estado Feudal impuseram às cerimônias oficiais um tom sério e sisudo, como uma forma de combater o riso, ritual dos festejos, que em geral descambavam para as permissividades. Mas, o povo, descontente com essa imposição, respondia com atos e ritos cômicos.

Depois de muitas vira-voltas, a Igreja passou a tolerar melhor a festa e até a estimulá-la, com o Papa Paulo II. Em 1545, no Concílio de Trento, entra o carnaval em pauta, reconhecido como uma manifestação popular de rua importante e, portanto, não devendo ser hostilizado pelo Clero. Em 1582, o Papa Gregório XIII, reformando o Calendário para Calendário Juliano - Gregoriano (em uso até hoje pelos católicos), estabeleceu, em definitivo, a data da quaresma e, em conseqüência, a do Carnaval.