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Desmonte do welfare state europeu impulsiona o populismo e a xenofobia

O Ciclo de Conferências Tendências do Capitalismo Contemporâneo, organizado pelo Centro Celso Furtado, com o apoio do Ipea, teve como objetivo analisar a conjuntura atual do sistema capitalista numa perspectiva global, tentando identificar movimentos e forças estruturais que permitam sua interpretação, bem como avançar nas perspectivas para os próximos anos.

A Sessão de Encerramento do Ciclo, na última terça-feira (08), no Ipea, no Rio de Janeiro, esteve a cargo do professor Gilberto Dupas, da Universidade de São Paulo (USP), que apresentou sua análise sobre o futuro da Europa.

Segundo ele, "o magnífico e ousado projeto de integração européia tem mostrado em sua rica história avanços e recuos, atualmente mais recuos que avanços". As maiores dificuldades vêm de complexos paradoxos, entre eles a tensão permanente entre integração e democracia. A imposição de novas fronteiras, ainda que virtuais e legitimadas por consensos circunstanciais, faz a todo o momento emergirem as antigas fronteiras.

"A União Européia está fazendo os Estados europeus perderem autonomia em muitos níveis", diz ele. Esses Estados querem se assegurar de que as perdas de soberania serão mais do que compensadas por ganhos que consolidarão sua posição frente a destinatários plurais e a diversos grupos de interesse. "Este problema se complica porque o desmonte do welfare state europeu se dá nos planos nacionais.

Nesse contexto, o populismo, os nacionalismos e a xenofobia muitas vezes surgem como alternativas para manter a identidade comum em face da ameaça do multiculturalismo e da globalização", explica ele.

Gilberto Dupas é presidente do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais (IEEI), coordenador Geral do Grupo de Conjuntura Internacional (Gacint) - IRI/USP, professor visitante da Universidade Paris II e da Universidade Nacional de Córdoba, co-editor da revista Política Externa e membro do Conselho Deliberativo do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP). Foi membro do Conselho Nacional de Avaliação do Ensino Superior CONAES (Ministério da Educação e Cultura), do Conselho Deliberativo do Instituto de Estudos Avançados da USP, do Conselho do CEBRAP, do Conselho Diretor da FGV e de seu Comitê de Planejamento Estratégico. No governo Montoro foi Secretário de Estado de Agricultura e Abastecimento e presidente da Caixa Econômica do Estado. É autor de vários livros dentre eles Economia Global e Exclusão Social Ed. Paz e Terra , Ética e Poder na Sociedade da Informação Ed. Unesp, Hegemonia, Estado e Governabilidade Ed. Senac , Tensões Contemporâneas entre o Público e o Privado Ed. Paz & Terra, Renda, Consumo e Crescimento PubliFolha, Atores e poderes na nova ordem global Ed. Unesp e O mito do progresso Ed. Unesp. Tem publicado cerca de seis centenas de artigos e ensaios nos principais jornais e revistas especializadas no Brasil e no exterior. Realizou cerca de 250 conferências e palestras em Universidades, Institutos de Pesquisas e Fundações no Brasil e no exterior.

Glossário:

Welfare State (Estado de Bem-estar Social ou Estado-providência)
É um tipo de organização política e econômica que coloca o Estado (nação) como agente da promoção (protetor e defensor) social e organizador da economia. Nesta orientação, o Estado é o agente regulamentador de toda vida e saúde social, política e econômica do país em parceria com sindicatos e empresas privadas, em níveis diferentes, de acordo com a nação em questão. Cabe ao Estado do bem-estar social garantir serviços públicos e proteção à população. Os Estados de Bem-Estar Social desenvolveram-se principalmente na Europa, onde seus princípios foram defendidos pela social-democracia. Pelos princípios do Estado de Bem-estar Social, todo indivíduo teria o direito, desde seu nascimento até sua morte, a um conjunto de bens e serviços com fornecimento garantido diretamente pelo Estado ou indiretamente, mediante seu poder de regulamentação sobre a sociedade civil. Esses direitos incluiriam a educação em todos os níveis, a assistência médica gratuita, o auxílio ao desempregado, a garantia de uma renda mínima, recursos adicionais para a criação dos filhos, etc.