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O poema de um imigrante

Quando olhei para o mar e divisei, ao longe, o nada na linha do horizonte, meu corpo estremeceu, meus pensamentos se embaralharam. Fui tomado por um certo pavor, por uma indecisão. Afinal, eu estava deixando toda a minha vida para trás: os meus pais, os meus amigos, amores de adolescência, as conversas na praça, os passeios após a missa.

Senti uma dor muito forte no peito, minha boca ficou seca e o suor umedeceu as mãos.

Agarrei-me a alguma coisa no navio. Baixei a cabeça, procurei respirar fundo, e arrisquei: mais uma vez olhei para a imensidão das águas, tentei equilibrar-me colocando as mãos nos bolsos do meu casaco puído, mantive-me firme, parecia querer assumir uma posição de orgulho e desafio.

Por alguns instantes, vieram-me à mente coisas que aprendera no pouco tempo em que estive na escola. Lembrei dos heróis da minha terra, recordei a luta do meu povo, a esperança de uma vida melhor jamais abandonada pela minha nona.

E comecei a sentir um vigor, uma força, uma convicção: Sim, eu iria para o Brasil, iria enfrentar o desconhecido, iria deixar tudo para trás. Com o meu suor, com o meu empenho, construiria uma nova vida. Não, não importavam os sofrimentos e os percalços que poderiam ocorrer. Eu honraria minhas origens. Eu seria o filho de Amabile e de Domenico.

Certamente, não enfrentei nem mais nem menos do que os meus compatriotas. Fui explorado, queriam que eu trabalhasse como um escravo; fui enganado, recebi montanhas pedregosas por vales verdejantes; fiquei doente, quase morri. Trabalhei como um insano. Mas jamais desisti.

E hoje, abraçando os meus netos, não deixo de achar tudo muito interessante. Venci, superei obstáculos. E, o mais importante, sou um homem com uma emoção que poucos podem sentir:Amor por duas pátrias.

(Giovanni Tuigo)