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Amadeo Modigliani, a cara do MAC

Nascido em Livorno, filho de abastada família judia, um dos principais integrantes da escola de Paris, com um trabalho onde se sobressaem o despojamento e a estilização, Amadeo Modigliani é a cara que o Museu de Arte Contemporânea – MAC-USP está  exibindo para assinalar a sua instalação no parque Ibirapuera. O rosto do artista – seu auto-retrato de 1919, uma tela do próprio museu -, em uma carteira de motorista, está anunciando a mudança para o prédio onde fica atualmente o Detran de São Paulo. O edifício passará por reformas para hospedar o pintor italiano e outros hospedes ilustres, entre os quais se destacam conterrâneos e descendentes como Portinari, Anita Malfati e Volpi.

No novo prédio, além de unificar as sedes e concentrar as obras num único local, o MAC terá quase 30 mil metros quadrados de área à disposição para expor seu acervo de dez mil obras (óleos, desenhos, gravuras, esculturas, objetos e trabalhos conceituais de mestres da arte do século 20). A mudança permitirá maior acesso do público em seu novo endereço. Além da localização, não há um portão externo restringindo a entrada, como ocorre na Cidade Universitária.  O desenho do projeto do museu sairá do escritório de Oscar Niemeyer e será elaborado a partir de orientações de arquitetos, especialistas e curadores do MAC. A previsão é que a fachada seja a bandeira da cidade.

A escolha da cara que divulgará a troca de endereço de um dos principais museus brasileiros ainda não é definitiva. Mas a escolha de Modigliani para iniciar o processo, e talvez continuar, é um bom começo.

Amedeo Clemente Modigliani, o mais novo dos quatro filhos de Flaminio e de Eugenia Modigliani, nasceu em 12 de julho de 1884, em Livorno , na Toscana. A família pertencia à burguesia judaica mais secularizada e, na época do nascimento de Modigliani, ela passava por situações financeiras precárias. Devido a uma crise econômica na Itália, a empresa da família abre falência e para ajudar às despesas da casa a mãe de Modigliani começa a dar lições particulares e a fazer traduções. Modigliani cresce num ambiente com interesses literários e filosóficos, como destaca Doris Krystof no livro Modigliani..  

Em 1898, conta Krystof, Modigliani contrai febre tifóide e o seu destino de artista lhe é revelado num mítico sonho delirante. Depois de restabelecido, abandona a escola e recebe lições do pintor Guglielmo Micheli na Academia de Arte de Livorno. No mesmo ano, seu irmão Emanuele, que virá a ser mais tarde um famoso membro do Partido Socialista Italiano, é mandado para a prisão durante seis meses, devido às suas atividades políticas.

Em 1906 o artista muda-se para Paris e, depois  de três anos de vida boêmia, realiza uma de suas obras mais importantes: "O violoncelista", que expôs no Salão dos Independentes de 1909.

Em 24 de janeiro de 1920, Modigliani morre no Charité de Paris. No dia seguinte, descreve Doris Krystof, sua mulher, Jeanne Hébuterne, suicida-se. Uma grande multidão assiste ao funeral de ambos no cemitério de Père Lachaise. A filha Jeanne é adotada pela irmã de Modigliani, residente em Florença, e escreve mais tarde uma importante biografia de seu pai. A primeira exposição retrospectiva da obra de Modigliani tem lugar na Galeria Montaigne.

Em seu texto sobre o artista italiano, disponibilizado no MAC,  Elza Ajzenberg destaca o ingresso de Modigliani na Academia de Arte de Livorno em 1898, sob a orientação de Guglielmo Micheli que era discípulo do pintor macchiaioli Giovanni Fattori. Na Academira, Modigliani desenvolveu estudos de retratos, paisagens, nus e naturezas-mortas. Nesse mesmo período, iniciou cursos de história da arte, dedicando-se ao estudo dos pré-rafaelistas e à leitura de Baudelaire, D´Annunzio e Lautréamont.

Desse último autor, frisa Ajzenberg, adquiriu a concepção de que o artista é um ser excluso da sociedade por sua independência criativa e pela constante busca de auto-realização. Em 1901, Modigliani viajou por Nápoles, Amalfi, Capri, Roma e Florença. No ano seguinte, inscreveu-se na Academia de Belas-Artes de Florença, onde adquiriu mais conhecimentos sobre macchiaioli, a pintura impressionista italiana. Em 1903, freqüentou a Scuola Libera del Nudo, em Veneza e encontrou o artista Ortiz de Zàrate com o qual descobriu a Bienal de Veneza e as tendências européias da arte, com atenção especial para a obra de Cézanne e Van Gogh. Chegou a Paris no início de 1906 e alugou um ateliê em Montmartre. Em seguida inscreveu-se no curso de desenho da Accademia Colarossi.


A produção artística realizada nesse momento, acentua Ajzenberg, revelou influências recebidas por Cézanne e pela arte africana. Os desenhos mostravam uma expressão intimista, cercada por espontaneidade e sensação de algo imediato. Em 1907, expôs no Salão de Outono em Paris. Logo em seguida, expôs diversas obras no Salon des Indépendants em Paris na sala dos pintores fauves. Encontrou Brancusi, em 1909, esculpindo em sua companhia no seu ateliê parisiense. O contato com o escultor propiciou alteração do trabalho volumétrico que se tornou mais simples, porém o ser humano era o tema central da escultura, sob a influência de formas arcaicas de ídolos e de máscaras primitivas.

De 1914 em diante, concentrou-se no desenho e na pintura, realizando vários retratos de pintores, escritores e intelectuais presentes em Paris. Essa fase foi marcada pela tendência expressionista em formas lineares e do alongamento das figuras. O modelado absorvido por Modigliani colocou linha e cor em equilíbrio, definindo a simplificação de sua composição, conclui Ajzenberg.