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Sobre Cesare Battisti

Por Stefano Ghisio Erba*

Cesare Battisti parece estar bem à vontade naquela imagem que circula na maioria dos meios de informação do mundo todo. Algemado, cercado e “protegido” por policiais federais armados, não aparenta a menor preocupação, não demonstra constrangimento. Pelo contrário, enfrenta a situação com jeitão debochado de quem è convidado participar de uma farra. Qualquer cidadão do bem, que nada deve, nestas condições mostraria um mínimo de ansiedade, nervosismo, consternação, vergonha.

A história é conhecida: julgado e condenado pela justiça italiana até última apelação, Cesare Battisti foi cúmplice em dois assassinatos e autor em mais dois, recorreu ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que avaliou correto o desfecho da justiça italiana.

Alegando inocência, mas esquivando-se do direito de defesa e sempre fugindo de suas responsabilidades, após uma temporada na França e breve período no México onde oportunamente escolheu a cidade de Puerto Escondido, procurou abrigo na clandestinidade passando um período no Rio de Janeiro. Em 2007 foi preso pela Policia Federal. A Itália, que colaborou com a prisão, pediu logo a extradição para que o sujeito cumprisse sua pena.

Mas foi aí que iniciou o calvário da justiça e o paciente trabalho da diplomacia italiana.
O então ministro da justiça brasileira, Tarso Genro, acreditando pura e simplesmente nas palavras do criminoso fugitivo, negou a extradição alegando que sofreria sérias represálias e perigo de morte na Itália. Esta argumentação, francamente descabida, até o momento, parece ser o amparo para a postura do presidente da República Brasileira e seus conselheiros.

Após quatro anos de muitas discussões e o parecer favorável à extradição do CONARE (Comitê Nacional para os Refugiados), o Supremo Tribunal Federal autorizou a extradição, mas definiu que a decisão final caberia ao Presidente da República.

Foi simples assim: o ultimo ato de Lula no governo repercutiu e muito, deu volta ao mundo e será assunto durante algum tempo. Battisti fica no Brasil.

È claro que esta atitude já deu e certamente continuará a gerar algum desconforto nas relações entre os dois Países, uma marolinha, para usar um termo tão caro ao ex-presidente. Em outros tempos tal pose iria ser motivo para uma guerra. Nos tempos modernos a paciência, a tolerância e o bom senso, que não devem ser confundidos com fraqueza ou condescendência, sugerem a busca da sabedoria através do dialogo.

Acima dos motivos ainda não perfeitamente esclarecidos que levaram Lula a polemica decisão, de que deve explicação pelo menos aos seus eleitores, cabe ressaltar que o criminoso permanece tal, impune.
Seus antecedentes, para ficar no assunto, indicam um sujeito predisposto ao dolo, já que foi julgado pelo que parece ser sua atividade preferida: assalto, seqüestro, e até uma queixa por ato libidinoso aos danos de uma pessoa que os relatos definem “incapaz”. Traduzindo em miúdos, hoje em dia, seria um crime de estupro. Por estes atos já cumpriu pena, mas sem dúvida agravam sua atitude nos anos seguintes. Não cabe, portanto, procurar justificativa no clima de desagrado político que havia na Itália nos anos 70, quando Cesare atingiu o auge de sua perversidade.

Não há cidadão italiano, nato ou descendente, que possa se sobrepor à justiça de seu País. Cesare Battisti é um delinqüente comum, julgado e condenado, que baseou sua trajetória criminosa buscando justificativa no ato político. Na realidade assaltava e matava para garantir seu sustento e de seus “companheiros” do que para incentivar a “expropriação de capitalistas”. Um oportunista, o avesso do Robin Hood em tempos modernos, um covarde algoz que atirava pelas costas em pessoas indefesas.

* Stefano Ghisio Erba
Viceconsole onorario d'Italia
Sorocaba - São Paulo

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