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Os bastidores da vinicultura no filme Mondovino

Três famílias italianas poderosas e uma família novata em Napa Valley lutam pela hegemonia, numa disputa que se arrasta há séculos.

Em Mondovino, essa briga se desenrola não no ringue, mas no tonel de vinho.

Visão afetuosa e penetrante do que acontece nos bastidores da vinicultura moderna, o filme de Jonathan Nossiter mapeia as transformações cataclísmicas, tanto econômicas quanto culturais, que atingem o mundo dos viticultores de hoje.

Infelizmente, a temática perde seu aroma penetrante quando o diretor a dilui com redundâncias e referências filosóficas abstratas. O filme tem 158 minutos, mas sua essência seria mais saborosa e potente se fosse destilada e reduzida pela metade.

Além disso, o filme, que teve apoio financeiro francês, possui uma pungência aromática que constantemente retrata Napa Valley e a chamada "globalização" dos vinhos finos sob uma perspectiva negativa. À luz desse forte e inclemente sol francês e da Toscana, a empresa de Robert Mondavi, a Robert Mondavi Winery, é mostrada como vilã. O que não é dito é que, de acordo com muitos especialistas em vinhos, Mondavi tornou o vinho fino acessível aos connoisseurs de classe média e é em grande medida responsável pela popularização do vinho nos Estados Unidos, país que, antes de sua chegada, era um deserto em termos dessa bebida.

Mondovino é mais saboroso quando chega às raízes: a terra onde as uvas são cultivadas e onde vivem os personagens excêntricos e voluntariosos que dedicam suas vidas a esse cultivo. O filme oferece uma visão revigorante de um velho mundo bucólico e tradicional. Mas essa paleta visual é prejudicada pela pirotecnia afetada do diretor - um trabalho de câmera hiperativo que condiz melhor com aulas de cinema para universitários, sem falar em uma música efusiva e assíncrona. Não faltam outros elementos que desagradam aos sentidos, incluindo tomadas suficientes de cães feios (e flatulentos) para encher um vídeo sobre animais de estimação.

Para aqueles entre o público que nada sabem sobre vinho e cuja idéia sobre o vinho fino, até agora, se resumia a dar ouvidos aos conselhos de Orson Welles sobre a excelência inesperada do Gallo, as pretensões do mundo dos especialistas em vinho são divertidas, especialmente o discurso crítico afetado.

A parte principal de Mondovino forma um filme interessante. Infelizmente, porém, o filme se arrasta por tempo demais. Sugestão: essa demora excessiva em chegar ao fim poderia ser mitigada se a distribuidora presenteasse cada espectador com uma garrafa de vinho fino.

Título original: Mondovino 
Gênero: Documentário
Ano: 2004
País de origem: Argentina, França, Itália, Estados Unidos
Distribuidora: Lumière
Duração: 135 min.
Classificação: livre
Língua: Português, Espanhol, Inglês, Francês, Italiano
Cor: Colorido
Som: Dolby Stereo
Diretor: Jonathan Nossiter
Elenco: Michael Broadbent, Hubert de Montille e Aime Guibert