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Levantamento identifica antigos teatros paulistanos

Levantamento realizado por pesquisadores da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP identificou cerca de 130 espaços teatrais existentes na cidade de São Paulo entre a metade do século 19 e o ano de 1930. As informações obtidas na pesquisa serão incorporadas à base de dados do Laboratório de Informação e Memória do Departamento de Artes Cênicas (LIM CAC) da ECA. O projeto deverá ser concluído em um ano, quando a biografia de cada espaço será disponibilizada para pesquisas e consultas.

“O objetivo mais amplo do projeto é mapear a existência dos diversos espaços teatrais paulistanos entre meados do século 19 e o fim da Primeira República, em 1930”, aponta a professora Elizabeth Azevedo, da ECA, que supervisiona a pesquisa. “As informações ajudarão a estudar melhor os investimentos, públicos ou privados, feitos na área teatral, os entornos urbanos, as dimensões e recursos das salas, as opções arquitetônicas, o público frequentador, entre outros aspectos”.

O trabalho de pesquisa é feito por quatro bolsistas de Treinamento Técnico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e busca levantar e agrupar a documentação existente sobre os teatros, nos arquivos da Prefeitura, do Estado, museus, nas memórias, nos jornais e revistas de época e na bibliografia especializada. A ECA dá apoio de infraestrutura física e de informática, abrigando a base de dados. Contribuições para a pesquisa podem ser enviadas pelo email antigosteatrospaulistanos@wordpress.com.

“Até agora já foram identificados cerca de 130 teatros, incluindo aí alguns ‘salões’ de sociedades amadoras e alguns casos quando o mesmo espaço foi rebatizado e reocupado”, conta a professora. “A região central, Pátio do Colégio, Rua Boa Vista, Rua São Bento, Largo São Francisco, Rua Florêncio de Abreu concentrou os primeiros teatros. Depois, eles foram se espalhando pela cidade, sobretudo nos bairros operários mais populosos, como Brás, Bom Retiro e Barra Funda”.

Casa da Ópera

O espaço mais antigo do qual se tem notícia é a chamada Casa da Ópera, de 1765, instalada na rua São Bento (Centro de São Paulo). “Contudo, uma segunda Casa da Ópera, que teve muito mais importância, foi a que existiu no Pátio do Colégio, onde hoje está a Secretaria de Justiça, e que passou a ser conhecida como Teatro de São Paulo, Teatro do Largo do Palácio, ou Teatro do Largo do Colégio”, relata Elizabeth. “Foi inaugurada por volta de 1770 e demolida cem anos depois”.

Os espaços incluem desde salas de mais de 1.000 lugares até pequenos auditórios em casas adaptadas. “Os estilos arquitetônicos, ainda pouco estudados, vão desde o neoclássico, passando pelo eclético, até um pseudo mourisco”, descreve a professora. “Todos aqueles até agora encontrados se configuram como palcos à italiana (em que a plateia é considerada uma “quarta parede” do cenário da representação), mas há variações nos espaços circundantes no que toca aos tipos de serviços e confortos oferecidos, como por exemplo a venda de bebidas e refeições”.

Segundo Elizabeth, o período entre o final do século 19 e começo do 20, até cerca de 1910, parece registrar o maior número de novos edifícios. “A população da cidade aumenta rapidamente nesse período e os teatros, muitos depois transformados em cine-teatros, respondem a uma demanda crescente por diversão e cultura”, aponta. Na maior parte do tempo os palcos foram ocupados com comédias e farsas e gêneros do teatro musical, como revistas, burletas e operetas. “Os dramas eram mais raros e, geralmente, tendiam ao melodrama”, acrescenta.

A professora ressalta que a pesquisa também tentará identificar se algumas dessas localidades ainda sobrevivem na cidade. “Entre os remanescentes estão o Theatro Municipal, na Praça Ramos de Azevedo, o Theatro São Pedro, na Barra Funda, o Teatro Oberdan no Brás, onde hoje funciona uma loja”, conta. “Também existem ainda o antigo Salão Celso Garcia, na rua Roberto Simonsen, pertencente às Classes Laboriosas, do qual só restou a fachada depois do incêndio de 2008, e o salão do antigo Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, no Anhangabaú, recém-restaurado pela Prefeitura na nova Praça das Artes”

Todo o material arrolado (referências de localização) será incorporado inicialmente à Base de Dados do LIM CAC, como documentação referenciada. ‘“Dentro de um ano, no final do projeto, esse material será disponibilizado para futuras pesquisas, além de servir para a elaboração de pequenas biografias iniciais sobre cada um desses locais”, planeja Elizabeth.