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Dantas teria dado ordem para violar sigilo

POR MARCIO AITH

Uma gravação feita pela Telecom Italia em circunstâncias confusas atribui ao banqueiro Daniel Dantas, do Banco Opportunity, e à executiva Carla Cico, presidente da Brasil Telecom, ordens para violações de sigilo telefônico.

O português Tiago Verdial, ex-funcionário da Kroll, teve gravada uma entrevista que fez para buscar emprego na Telecom Italia, justamente a empresa que espionava sob ordens da diretoria da Brasil Telecom, controlada pelo banco Opportunity.

A entrevista de emprego ocorreu na manhã do último dia 15 no Hotel Caesar Park, no Rio.

A gravação da conversa foi entregue no último dia 16 pela Telecom Italia ao delegado federal José Nogueira Elpídio.

Sem motivos

A PF não tem dúvidas de que a voz na gravação é de Verdial. No entanto, suspeita das razões que levaram o português a comprometer a Kroll, Dantas e Cico. Existem três versões: Verdial teria sido cooptado pela Telecom Italia; se vingado da decisão da Kroll de desligá-lo, em julho; ou uma mistura das duas coisas.

Na gravação, o português disse que Dantas e Cico entregavam à Kroll os números de telefone que deveriam ser monitorados. Não fica claro se Verdial referiu-se a grampo ou apenas à obtenção de números discados e recebidos -as duas práticas são ilegais.

Indagado se Dantas e Cico pediam à Kroll que "coisas ilícitas" fossem feitas, Verdial respondeu afirmativamente ao entrevistador da Telecom Italia.

O seguinte diálogo aparece na gravação:

Entrevistador da Telecom Italia: "Quem entregava para você [para a Kroll] os números de telefones para puxar os extratos?"
Verdial: "DD E CC'

Entrevistador da Telecom Italia: "O que é DD e CC?"

Verdial: "Daniel Dantas e Carla Cico".

Verdial foi preso no sábado pela PF, no Rio, acusado de monitoramento ilegal de autoridades e corrupção de servidores.

Verdial diz na conversa nunca ter-se encontrado com Dantas, mas apenas com Cico. Segundo ele, a ligação com Dantas era feita por meio de um ex-agente da área externa do serviço secreto inglês, de nome "Bill".

"Ele [Bill] é meu chefe. Eu me reporto a ele. Ele é o contato com DD e com CC", diz Verdial.

Na gravação, Verdial diz que entre suas tarefas na Kroll estava a de "aproximar-se de alguns jornalistas e de alguns juízes".