Italianos do Bixiga se preparam para mais uma homenagem a N.S. Achiropita
Dentro de pouco mais de um mês, exatamente no dia 15 de agosto, o bairro do Bixiga, em São Paulo, um dos mais tradicionais redutos de descendentes de italianos no Brasil, mais uma vez irá comemorar a data alusiva à Nossa Senhora Achiropita, padroeira dos milhares de moradores da região. Na verdade, os festejos ocorrem ao longo de todo o próximo mês e têm mais um motivo especial: a comemoração dos 80 anos da paróquia.
Em frente à igreja, são colocadas barracas que oferecem comida típica, como lingüiça calabresa, provolone, macarronada, fogazza, polenta, fricazza e uma infidade de doces regionais. Ao mesmo tempo, no interior da Igreja é feita a visitação à Santa, Novena, orações e preparação da procissão. As cantinas da região, bem como a montada no salão paroquial, também recebem os visitantes com muita música e comidas típicas. A festa, que mobiliza milhares de pessoa, determina o fechamento de ruas e alterações no trânsito.
Antigamente, era costume das famílias colocarem suas melhores colchas nas janelas durante a procissão. Na verdade, como destaca matéria do site do Bixiga (www.bixiga.com.br), nos seus primórdios, no início do século passado, a festa já tinha uma animação inusitada. Havia a quermesse da Achiropita, como era conhecida,. Onde o pau de sebo era uma das grandes atrações: no topo eram colocados provolones, salames e até notas de 5000 réis. A banda Berzagliere animava a festa com música típica, seus cerca de 30 integrantes eram hospedados na casa dos devotos que custeavam sua vinda da Itália. As prendas eram angariadas por uma comissão que percorria o bairro com a banda e o estandarte da santa, recebendo como donativos bebidas, cabritos, leitões e depois leiloados nas barracas.
A força da fé
Os italianos oriundos de Rossano Cálabro, os rossanenses, mantinham uma profunda rivalidade com os cherinnholanos, vindos de Cerignolla na Púglia: a devoção por Nossa Senhora, ou melhor, por Madonna como diziam, destaca a matéria do site do Bixiga. Os antigos alegam que a rivalidade era tão arraigada que filhos e devotos da N. S. de Achiropita não podiam casar com filhos de devotos de N. S. da Ripalta. Os calabreses eram devotos a N. S. da Achiropita e os cherinnholanos devotos a N. S. da Ripalta.
Existem duas Igrejas de N. S. de Achiropita: uma catedral na Itália e a do Bixiga, construída em 1925. Cabem na igreja de 350 a 400 pessoas (51 bancos de 4 lugares, mais as cadeiras). Aqui no Brasil, tudo começou quando um dos imigrantes vindos de Rossano na Calábria, José Falcone, devoto de N. S. Achiropita, trouxe a imagem da santa.
Sua casa, situada na rua Treze de Maio 100 (antiga rua Celeste), era freqüentemente visitada por devotos que se reuniam para fazer novenas e orar para a santa. Foi nessa época, cerca de 1910, que se iniciou a festa no dia da padroeira. Era construído um altar, na rua Treze de Maio com a rua Manoel Dutra, ainda sem calçamento, e nos dias 13, 14 e 15 de agosto eram rezadas missas. Uma verdadeira saga de empenho, dedicação e fé viabilizou a construção do templo no Bixiga e, posteriormente, a sua restauração.
No ano de 580dc, o Capitão do Império Romano Bizantino Maurício (539-602) alegando que fora desviado de sua rota pelos fortes ventos sofridos durante a viagem, aporta numa pequena aldeia da Calábria (Lucânia) e é recebido pelo Monge eremita santo Éfren que vivia numa pequena gruta, devotíssimo da Virgem Maria. O Monge, no entanto, discorda das razões alegadas por Maurício afirmando que Nossa Senhora é que o levou a aportar por estas terras, incumbindo-o de construir um templo assim que se tornasse imperador.
Dois anos depois Maurício de Constantinopla se torna Imperador. Recordando a predição do Monge, ordena a construção de um santuário. O governador Filípico, cunhado do imperador, visando agradar o monarca, trouxe competentes artistas de Bizâncio a fim de pintarem uma imagem da Virgem Maria (Madonna e Banbino) no fundo do templo. Mas durante a construção, sempre que a imagem da N. S. era pintada durante o dia, sumia durante a noite!
O governador, insatisfeito com o ocorrido, ordenou que a gruta fosse vigiada. Até que um dia surgiu do nada uma jovem senhora, de rara beleza, trajando uma túnica de seda pura, muito alva, resplandecente de luz, e solicitou ao vigia que permitisse sua entrada para que visitasse o santuário. Após um longo tempo, o vigia percebendo que a estranha senhora não retornava do interior do santuário, entrou para verificar a razão de sua demora e, para sua surpresa, encontrou a pintura de N. S. acabada e o santuário vazio. Nossa Senhora havia pintado a sua própria imagem!
Logo a notícia se espalhou e os moradores da região começaram a chegar ao lugar do milagre e aclamavam entre lágrimas e cânticos de louvor: "Achiropita! Achiropita". Achiropita, palavra grega italianizada que significa "imagem não pintada pelas mãos do homem". O imperador Maurício de Constantinopla ordenou a construção de uma basílica dedicada à Virgem Achiropita.
No entanto, tudo leva a crer que a atual imagem venerada não seja a primitiva. Os pesquisadores crêem que a pintura de hoje possa ser uma restauração, caso a primeira tenha realmente existido. Imigrantes calabreses trouxeram para São Paulo uma cópia fiel daquela que se encontra na basílica de Rossano.
Os religiosos da Congregação de Dom Orione, com a ajuda de muitos membros da colônia italiana em São Paulo, construíram uma igreja onde pode-se contemplar uma escultura da Virgem Achiropita que foi criada a partir da cópia fiel do quadro original.
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