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Cesare Battisti: A luta armada foi um erro

Em entrevista à Luiza Villaméa, da Revista Isto É, o ex-ativista italiano Cesare Battisti, cujo refúgio político concedido pelo governo brasileiro, gera uma crise sem precedentes nas relações entre os dois países, afirmou que nunca matou ninguém – ele foi condenado à prisão perpétua acusado de envolvimento em quatro assassinatos. Battisti assegurou que nunca foi um militante militar em nenhuma organização que integrou, a Frente Ampla e o PAC – Proletários Armados pelo Comunismo.

Battisti alega que demorou 16 anos para dizer que não matou ninguém “porque os outros que confessaram disseram que tinham matado de verdade. Se eu me defendesse, me diferenciaria e abriria uma brecha na doutrina Mitterrand (alusão ao ex-mandatário francês, onde viveu por algum tempo, antes de vir ao Brasil), que impunha a mesa defesa para todos”. Ainda conforme Battisti, a causa da vingança “dos poderosos políticos italianos” é o fato de ter feito “um documentário sobre os anos de chumbo na Itália”.  Battisti porém disse na entrevista que fez uma procuração para um advogado, que o está defendendo na França, “para poder dizer, agora alto, que não matei ninguém e fui condenado à revelia. Para isso tive de sair da defesa coletiva”.

Acentuando que continua sendo um  “um comunista de verdade, não no sentido partidário”, Battisti reconheceu na entrevista à Isto É que “a luta armada foi um erro. Agora não acredito que se possa fazer uma revolução pelas armas. Eu nunca atirei em ninguém, mas usei armas em operações para o financiamento das organizações.” Battisti salientou ainda, na entrevista, que não mudaria suas idéias, mas mudaria os meios para alcançar os resultados. E reafirmou que "nunca acreditou que se podia mudar o mundo matando pessoas. Frisou que o PAC era uma organização que não incluía a morte de pessoas em suas diretrizes, diferenciando-se exatamente por isso das Brigadas Vermelhas."E foi este o motivo de minha ruptura com os PAC depois da morte de Aldo Moro. Os PAC defenderam a morte de Aldo Moro".

Battisti diz que a Itália viveu anos de chumbo no período em que militava, que havia uma verdadeira guerra civil, mas que o país não pode reconhecer isso.  Destacou ainda que, na década de 70, havia na Itália “uma democracia na qual a máfia estava no poder. Havia também os fascistas, que nunca foram afastados do poder. E hoje, infelizmente, voltaram.”

Battisti, que disse ainda ter sido orientado por franceses a se instalar no Brasil, diz que pretende  continuar escrevendo no Brasil, além de trabalhar em iniciativas culturais. Não acreditando em uma reversão do seu caso, com o STF confirmando a decisão do Ministro da Justiça e negando sua extradição, Battisti pretende trazer suas filhas para o país.

Leia a integrada da entrevista  em
http://www.terra.com.br/istoe/index.htm