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Depois do turismo, igreja italiana ataca no futebol

Ou é muita ingenuidade ou, como seria o mais indicado, muita fé. A Conferência Episcopal Italiana acaba de adquirir um time de futebol, o Ancona, com o propósito de fazer com que o esporte volte a ser fator de educação e valor. Para atingir seu objetivo, em um ambiente absolutamente contaminado pelos interesses comerciais, que se utiliza de toda a força do marketing para manipular as emoções de coletividades, a Igreja se valeu de um grupo de empresários católicos que bancaram a compra e vão administrar o clube, hoje relegado à terceira divisão, depois de ser envolvido em escândalos de corrupção.

Mesmo assim, a Igreja italiana declara que seu propósito é fazer com que o futebol volte a ser um instrumento educativo (sic) e que não seja conduzido apenas por valores econômicos. A Conferência pretende que o futebol não seja apenas ilusão, ignorando exatamente as bases nas quais ele se assenta: a ilusão do pertencimento, a ilusão da vitória, a ilusão de conquistas que, em última análise, apenas atua como amortecedor social.

Os propósitos dessa investida religiosa no terreno dos esportes estão delineados a partir de pressupostos já teoricamente estabelecidos pelas equipes tradicionais, como um código de ética, onde será proibido agressão à torcida inimiga. Os lucros, diz a conferência, serão destinados para ajudar os pobres dos países do terceiro mundo.

Na verdade, as ambições da igreja vão mais longe: quer fazer um time do Vaticano, em condições de competir com as melhores equipes do aguerrido campeonato italiano. A Conferência acredita que o futebol pode inclusive melhorar o diálogo entre outras religiões. O que, aliás, não é novidade, pois o esporte sempre foi vendido como um fator de integração entre os povos. A questão é elementar: como difundir valores fraternos com base em uma atividade cuja essência é a competição?

Depois de criar uma agência de turismo para levar os fiéis para os lugares santos, a igreja católica, com essa investida no esporte, revela uma estratégia de envolvimento mais direto e efetivo em áreas mundanas-econômicas. Mas ainda está muito longe da eficiência revelada pelas seitas evangélicas que, em nome de Deus, constroem, como especialmente ocorre no Brasil, verdadeiros impérios financeiros que, à custa da manipulação da fé, enchem os bolsos de pastores e pastoras. (JAZ)