UIL

A origem dos sobrenomes italianos em tempos medievais

Como surgiram e como passaram a ser usados os sobrenomes italianos?

A origem dos nomes e sobrenomes, onde eles surgiram e como passaram a ser usados é campo de estudos da onomástica, que investiga as origens e os processos de denominação, reunindo dados sobre o nascimento das palavras (etnologia), sobre a história e a geografia. Investigar as origens dos sobrenomes italianos nos convida a fazer uma viagem no tempo.

Afresco da arte etrusca. Necropoli Etrusca di Monterozzi (Tarquinia), no Lazio. Imagem: Reprodução

No período romano arcaico, que seria mais correto definir como pré-romano (anterior à fundação de Roma, em 753 a.C), as várias comunidades pastoris que habitavam as colinas da região costumavam se chamar simplesmente por um nome.

Provavelmente tenha sido a influência etrusca que contribuiu para a difusão de nomes próprios diferentes e mais complexos: nas inscrições deste povo, em descobertas arqueológicas, não é incomum encontrar o nome nobre (da família) com o nome pessoal que vinha acompanhado de um sobrenome que identificava a pessoa citada, pelo nome paterno e, às vezes, também pelo nome materno.

Já os “nomes” romanos estruturavam-se da seguinte forma: depois da fundação da cidade, a população citadina, antes dividida em diferentes grupos sociais e agora reunida num mesmo grupo, precisava identificar a pessoa de forma mais clara e imediata, evitando mal-entendidos gerados pela homonímia (palavras com a mesma grafia ou pronúncia, mas com significados diferentes).

Ao nome pessoal, dito "prenome", foi acrescentado um cognome, denominado "nomen", que a partir desse momento indicaria a gens, ou seja, o grupo social de pertencimento. A partir do século VII a.C foi acrescentado um " cognomen ", particularmente difundido entre os patrícios, que na realidade nada mais era do que um sobrenome, dado para melhor identificar a pessoa. Algumas vezes era acrescentado um "supernomen" ou um segundo sobrenome, por exemplo: em Publius Cornelius Scipio Africanus, o último elemento indicaria que a pessoa em questão deve ter lutado bravamente na África. 

A difusão do Cristianismo, entre os séculos II e V, no período final do Império Romano do Ocidente, gerou uma nova revolução na definição dos nomes próprios: artesãos, mercadores e camponeses convertidos optaram por ser chamados com a humildade de um único nome, que frequentemente era o nome de um mártir ou apóstolo de Cristo. Posteriormente, a deterioração da vida social causada pelas invasões bárbaras contribuiu para o processo de redução onomástica. E se às vezes surgisse um caso de homonímia dentro de uma aldeia, era resolvido dizendo, por exemplo, que Marcus era filho de Johannes.

A Idade Média é o período histórico que começa em 476 d.C com a queda do Sacro Império Romano do Ocidente e termina com a descoberta da América em 1492. Chamberlain com sua secretária em seu escritório, atribuído a Paolo di Giovanni Fei (1345-1411). Imagem: Reprodução

Com o “renascimento baixo-medieval”, quando o desenvolvimento do comércio começou a aumentar os atos administrativos e notariais, surgiu novamente o problema de identificar melhor os cidadãos com um segundo nome. Assim nasceu o sobrenome moderno, aos poucos e de forma nem sempre consciente ou generalizada: passou-se a escrever Antonius filius Mauri, e mais tarde, a palavra “filius" caiu e permaneceu Mauri – Antonius Mauri.

Um segundo tipo de sobrenome indicava o local de nascimento: Napolitano, Valle, Dal Borgo. E um terceiro, era inspirado no comércio ou na profissão, como Cavallari, Barbieri, Fabbri. Por fim, havia sobrenomes que, na verdade, eram apelidos porque indicavam uma característica física ou moral de uma pessoa: Onesti, Zoppi, Rosso, Neri, Biondi, Gobbi. Desse modo, houve um retorno à fórmula binomial.

Uma curiosidade a sublinhar para esta última categoria de sobrenomes diz respeito aos apelidos dados a muitas famílias nobres, em sentido depreciativo. É o caso dos Pelavicinos, uma das maiores e mais antigas famílias feudais do norte da Itália e uma das mais florescente (junto com os Malaspina e os Estensi). Filho de um marquês chamado Alberto, o marquês Oberto I (falecido em 1148) foi chamado, pela primeira vez na história da dinastia, de "Pelavicino", apelido que afinal não era muito brincalhão, já que se referia à sua rapacidade (tendência para roubar). Oberto II (falecido em 1269), neto de Oberto I e filho de outro "Pelavicino" (falecido em 1217) também foi denominado "Pelavicino". Este nome foi "naturalmente" herdado de seus descendentes, tornando-se o sobrenome da família na forma Pallavicino (ou Pallavicini) durante o final do período imperial e então moderno. O sobrenome provavelmente foi alterado pela mesma família para torná-lo menos "agressivo" e ampliar o consenso. Fonte: Amanti della Storia