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Vaticano tenta mostrar que ajudou judeus

O Vaticano divulgou hoje uma carta datada de 1943 em que um bispo reclamava que a Igreja estava ajudando muitos judeus, em mais um lance da Santa Sé para rebater as acusações de omissão diante da perseguição nazista aos judeus na II Guerra Mundial. A carta faz parte de um conjunto de documentos do Arquivo Secreto do Vaticano. A acusação de omissão do papa Pio XII em relação ao Holocausto é um maiores entraves da relação entre católicos e judeus.

O documento expressa desagrado pelo "tratamento preferencial" aos judeus, e é assinado pelo arcebispo Andrea Cassulo, o núncio do Vaticano na Romênia. Escrita em 21 de julho de 1943 e endereçada ao secretário de Estado do Vaticano, cardeal Luigi Maglioni, a carta afirmava que uma parcela "impressionante" da papelada que passava pela embaixada do Vaticano em Bucareste era relativa a informações sobre o paradeiro de "pessoas da raça hebraica".

Cassulo afirmava na carta que "algumas pessoas" haviam lhe dito que era "inadequado para os gabinetes da Santa Sé dar esse tipo de preferência aos judeus". Uma das pessoas que reclamara com o arcebispo tinha sido o bispo de Timisoara, de sobrenome Pacha (o primeiro nome não constava da carta).

Escrevendo em latim para Cassulo, ele afirmou que a grande maioria dos fiéis de sua diocese eram alemães étnicos que estavam indignados. Segundo ele, os fiéis estavam "acusando abertamente a Igreja de ter um bom relacionamento com os judeus, inimigos do povo alemão". Cassulo pedia orientação ao Vaticano, que se manteve neutro na guerra e ajudou a encontrar desaparecidos e prisioneiros de guerra. A resposta do Vaticano não constava dos documentos.

A carta é um dos milhares de documentos divulgados em dois volumes e oito DVDs relativos aos esforços do Vaticano para ajudar as famílias de prisioneiros de guerra durante o conflito global. Os documentos pertenciam a um departamento chamado Inter Arma Caritas, estabelecido por Pio 12 entre 1939 e 1947 para tratar do assunto.

O Vaticano vem tentando há décadas responder às acusações dos judeus de que Pio XII, cujo pontificado foi de 1939 a 1958, fez muito pouco para impedir o Holocausto ou para ajudar judeus a fugir. O papa atual, João Paulo II, obteve grandes avanços nas relações com os judeus, inclusive por garantir a divulgação de partes dos arquivos secretos do Vaticano naquele período.