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A Casa de Maria: Nós a encontramos!

IV - “Nós a encontramos!”

1. Os primeiros exploradores

Não seria de fato um exagero dizer que os fiéis relatos de Clemens Von Brentano, acerca das “revelações” da irmã Anna Katharina Emmerick, não suscitaram nenhum interesse concreto quando foram publicados e assim permaneceram por muitos anos. É somente em 1880 que uma cópia da Vita della santa Vergine Maria, de Emmerick-Brentano, chega até as mãos de um sacerdote francês, Julien Gouyet. Impressionado pela afirmação da religiosa, de ter contemplado nas suas visões a casa de Maria próxima a Éfeso, Don Gouyet decide partir e ir verificar pessoalmente.

No ano sucessivo, dirige-se para Esmirna – cidade a cerca de setenta quilômetros ao norte de Éfeso –, onde foi acolhido, calorosamente, pelo arcebispo monsenhor André Timoni que o encorajou na sua pesquisa e lhe colocou à disposição um jovem ajudante para acompanhá-lo. Sabendo da perigosa reputação que possuía a montanha em torno de Éfeso, lhe entregou, também, uma nota escrita em grego dizendo: “Por favor, poupai este pobre viajante, inofensivo e sem recursos”. Por sorte, a nota foi inútil. E ainda mais afortunadamente, Don Gouyet encontrou as ruínas de uma antiga casa que correspondia, exatamente, às descrições de Emmerick. Ao retornar a Paris, não perdeu tempo e, imediatamente, informou, tanto aos seus superiores diocesanos, quanto ao Vaticano, sobre o importante achado. Todos, porém, esforçaram-se a desencorajar Don Gouyet, ao máximo possível, de contar ao mundo a sua “descoberta”, privada de fundamento e potencialmente embaraçosa, sobre uma longínqua zona montanhosa. 

Assim, tudo permaneceu à sombra por outro decênio, a fim de reaparecer, depois, nas circunstâncias mais impensáveis.

Um dia da metade de novembro de 1890, irmã Marie de Mandat Grancey, superiora das Irmãs da Caridade que gestavam o Hospital Francês de Esmirna, perguntou a um sacerdote que as visitava, se ele desejava, depois do jantar, ler algum livro do seu agrado. O sacerdote, padre Poulin, aceitou de bom grado e passou à biblioteca para pegar qualquer coisa. Ao retornar ao quarto, desapontado, deu-se conta que, inexplicavelmente, entre os livros que havia pego estava La vita e la dolorosa passione di nostro Signore Gesù Cristo secondo le visioni di Anna Katharina Emmerick.   Com o intuito de compreender a sua reação, deve ser dito que Eugene Poulin, padre lazarista, além de diretor do Colégio Francês do Sagrado Coração em Esmirna, era também um apaixonado estudioso dos clássicos, profundamente contrário a toda forma de misticismo. Contudo, deu uma olhada no livro de Emmerick, até constatar, para o seu próprio espanto, que o lia com um interesse sempre crescente. Decidiu, então, prosseguir e, mais tarde, também comentar sobre ele com os seus irmãos no hospital, com o intuito de ver a sua reação. Logo surge um animado debate, onde cada um expressa o seu ceticismo, maior ou menor, sobre o valor daquelas visões. As leituras e as discussões continuaram por mais de um mês. Depois, em uma noite, no final de dezembro, padre Poulin é abordado por um dos sacerdotes mais antigos do hospital, padre Dubulle, que lhe pergunta se já havia lido a Vita della santa Vergine Maria da Emmerick. Responde não e que, pelo contrário, jamais soubera da sua existência. Padre Dubulle lhe dá uma cópia.

A leitura deste livro, com as descrições da casa de Maria, da sua vida, morte e sepultura em Éfeso, suscitou uma controvérsia ainda maior do que a gerada pela obra precedente. Também desta vez os céticos estavam em maioria. Destes, o mais decidido na denúncia das visões de Katharina Emmerick foi o capelão do hospital, padre Jung, ilustre estudioso do hebraico e também professor de ciências no Colégio do Sagrado Coração. Rígido adversário dos místicos e visionários, ele ridiculariza as visões, definindo-as como “sonhos a olhos abertos, típicos das garotas”. Enfim, com o intuito de resolver a questão, sugere-se que um grupo deles vá a Éfeso, durante as férias de verão, procurar estabelecer a verdade. Todos concordaram e, em um momento de inspirada alegria, foi também decidido que padre Jung dirigiria a expedição.

O grupo parte de Esmirna na madrugada de uma segunda-feira, em 27 de julho de 1891, e toma o trem para Ayasoluk (hoje, Selçuk), o ponto mais próximo a Éfeso. Faziam parte do grupo o ainda pouco entusiasta chefe da expedição, ou seja, padre Jung; padre Benjamim Vervault, um lazarista da ilha de Santa Irene, de passagem por Esmirna, que sobre as “visões” místicas era quase tão reservado quanto padre Jung; um grego de nome Pelecas, amigo de padre Jung, que durante um tempo foi chefe da estação de Ayasoluk e, portanto, conhecia bem a zona de Éfeso; e Tomás, um persa que havia trabalhado no Colégio do Sagrado Coração e cuja tarefa era se ocupar da bagagem. Em Ayasoluk, une-se a eles um quinto membro da equipe, um turco muçulmano de raça negra, de nome Mustafá, que assume como guia de montanha e, ao mesmo tempo, guarda-costas do grupo.

[continua...]

7 - A Casa de Maria: Uma falsa pista

Donald Carrol, A CASA DE MARIA. Uma história maravilhosa: Como foi descoberta em Efeso a casa da Virgem Maria.

Tradução do italiano
Cláudia Rejane Turelli do Carmo

La Casa di Maria - Una storia meravigliosa: come fu scoperta a Efeso l'abitazione della Vergine Maria

Edição italiana
Edizioni San Paolo s.r.l, 2008
www.edizionisanpaolo.it 

Tradução do inglês
Paolo Pellizzari
ISBN 978-88-215-6227-3

Título original da obra:
MARY’S HOUSE. The straordinary story behind the Discovery of the house where the Virgen Mary lived and died.
Primeira publicação na Grã-Bretanha por Veritas Book, em 2000.