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A Casa de Maria: Vida de Maria em Éfeso

Vida de Maria em Éfeso, segundo Anna Katharina Emmerick 
   
a. Maria se transfere com João a Éfeso

Maria, depois da ascensão de Cristo ao céu, viveu três anos em Sião, três anos em Betânia e nove anos em Éfeso, para onde a levou João... Maria não residiu, propriamente, em Éfeso, mas sim na zona onde já estavam estabelecidas diversas mulheres que a conheciam bem e lhe eram ligadas. 

Proveniente de Jerusalém, a casa de Maria estava localizada a cerca de três horas e meia de distância de Éfeso, em um monte, à esquerda da cidade, que sobe de modo bastante íngreme, em direção a Éfeso... É uma área solitária, com muitas aprazíveis colinas férteis e grutas incrustadas na rocha, em meio a pequenas clareiras saibrosas, selvagens, contudo não estéreis, com muitas árvores de troncos lisos e copas amplas, em forma de pirâmide.

Quando João portou aqui a santa Virgem, para a qual, antecipadamente, havia feito construir uma casa, já diversas famílias cristãs e mulheres devotas viviam nesta zona... Todas essas pessoas eram refugiadas ali por causa das freqüentes perseguições. Por utilizarem as grutas e as várias áreas do modo como a natureza as oferecia, as suas casas eram solitárias e, na maior parte, se distanciavam cerca de quinze minutos umas das outras e todo assentamento assemelhava-se a uma zona rural, com habitações esparsas. 

A casa de Maria era a única de pedra. Logo à direita da casa, um caminho conduzia ao topo rochoso do monte e, dali, acima das colinas e das árvores, se tinha uma vista completa sobre Éfeso e o mar com suas tantas ilhas... Nas vizinhanças, tem um castelo no qual habita um rei destronado. João o visitava, frequentemente, e o havia convertido.

b. A casa de  Maria nos arredores de Éfeso            

A casa de Maria era de pedra, quadrangular e, na parte posterior, a parede era arredondada; as janelas eram altas, o telhado plano. Era dividida em duas partes por uma espécie de lareira, colocada ao centro. O fogo era aceso pelo chão na direção frontal à porta de ingresso...; do forno até o teto, foi criada uma via de saída para a fumaça. Sobre a abertura feita no forro, vi um cano de cobre, inclinado, subir sobre a casa.

A parte dianteira da casa era separada do ambiente que se encontrava atrás da lareira, por leves paredes de junco trançado, colocadas em ambos os lados da lareira.  Nesta parte da frente, na qual as paredes eram bastante rudes e um pouco enegrecidas pela fumaça, vi, dos dois lados, pequenos quartos divididos por frágeis paredes móveis. Se esta parte da casa devesse servir como sala grande, estas paredes que não chegavam até o teto seriam tiradas. Neste ambiente, vi dormir a serva de Maria e outras mulheres que a visitavam. 

À esquerda e à direita da lareira, por meio de ligeiras portas, se passava para o ambiente interior e mais íntimo da casa, que tinha forma semicircular ou em ângulo. Tal recinto era muito agradável e bem cuidado. Todas as paredes eram revestidas de madeira e, também, o teto, ornamentado de lenha esculpida de modo que o conjunto suscitava a impressão simples, mas muito agradável.    
 
A parte arredondada da casa, fechada por uma cortina, guardava o oratório de Maria. Ao centro da parede havia uma concha, onde um recipiente que podia abrir e fechar facilmente, similar a um oratório, era colocado. Ele continha uma cruz com os braços na forma de Y; é sempre assim que vejo a cruz de Jesus... Sobre esta mesma cruz a figura do Senhor ia gravada, muito simplesmente e sem ornamentos, e as incisões eram evidenciadas por uma cor escura de modo que a figura fosse bem evidente... Dos lados da cruz, existiam dois vasos sempre cheios de flores frescas... À direita deste oratório, colocado em um nicho da parede, havia um quarto pequeno para o leito da santa Virgem e, oposto a ele, à esquerda, uma pequena peça para guardar as roupas e vários objetos... 
 
A pequena casa de Maria surgia entre árvores do tronco liso e da copa em forma de pirâmides, nas cercanias de um bosque. Era um lugar muito silencioso e solitário. Todas as casas das outras famílias se encontravam a certa distância, igualmente isoladas, como em uma área rural.

c. Vida de Maria em Éfeso

A santa Virgem morava aqui apenas com uma pessoa mais jovem, a sua serva, quem tratava de obter o pouco necessário para a alimentação de ambas. Viviam em silêncio e profunda paz. Em casa não havia nenhum homem e, algumas vezes, um dos apóstolos ou dos discípulos, durante as suas viagens, vinham a fazer-lhes visita. Com muita freqüência, vi entrar e sair da casa um homem que eu sempre acreditei ser João, mas que nem em Jerusalém, nem aqui, vivia estavelmente ao lado da Virgem. Viajava muito...

Uma vez, enxerguei João entrar na casa, também ele parecia muito mais velho. Era muito magro e usava um hábito branco, longo e amplo, preso à cintura por uma cinta. Entrando, desamarrou a roupa, tirou-a e permaneceu com outro hábito que usava por baixo... A santa Virgem, toda vestida de branco, foi ao seu encontro, apoiada no braço da sua serva. O seu rosto era branco como a neve e como transparente. Parecia vibrar de saudade. Desde que seu Filho subira ao céu, todo o seu ser exprimia nostalgia crescente.

João e ela se dirigem ao oratório, ela abre o tabernáculo e aparece a cruz que ali era guardada. Depois que ambos tinham rezado ajoelhados, João se levanta, pega uma caixa de metal que portava consigo, a abre de um lado e retira um pequeno embrulho de delicado pano de lã; deste, sai uma pequena toalha de tecido branco que continha o santo Sacramento sob a forma de um naco branco de forma quadrada; depois, com grande solenidade, pronuncia algumas palavras e entrega à Virgem o Sacramento. Então, lhe oferece um cálice.

Atrás da casa, a alguma distância, em direção ao cume, a santa Virgem tinha predisposto para si uma espécie de “Via Crucis”. Depois da morte do Senhor, quando ainda viva em Jerusalém, jamais tinha deixado de percorrer, cotidianamente, entre lágrimas, a sua via dolorosa. Havia medido em passos, a distância entre todos os pontos do caminho que Jesus tinha sofrido...   
Logo após a sua chegada a esta região, eu a vi percorrer, todos os dias, uma parte da estrada, atrás da sua casa, em direção ao monte. No princípio, ela andava sozinha e, com base no número de passos que tantas vezes tinha contado, marcava os pontos nos quais o Senhor havia tanto sofrido. Em alguns destes pontos, havia posto uma pedra ou, se houvesse uma árvore, a tinha levado em conta. A via conduzia a um bosque onde tinha escolhido uma colina como o monte Calvário; uma pequena gruta de outra colina tornara-se o sepulcro de Cristo.

Quando estava dividida a sua Via Sacra em doze estações, assinaladas por pedras, começou a percorrê-la em silenciosa contemplação, junto a sua serva... Em seguida, a santa Virgem assinalou os pontos, ainda melhor: eu a vi, na verdade, dotar cada um desses de uma inscrição que indicava o significado do lugar, o número de passos e outras informações... A santa Virgem não ornou de imagens ou cruzes este local, mas simplesmente de pedras rememorativas; todavia, mediante o contínuo percorrer da via e arrumá-la, vi este lugar tornar-se sempre mais belo e significativo. Mesmo depois da morte da santa Virgem, vi os cristãos percorrerem este caminho da cruz, lançarem-se à terra e beijarem o solo. 

d. Viagem de Maria a Jerusalém e seu retorno. Como nasce a crença da sua morte, nesta cidade.

Após o terceiro ano passado em Éfeso, Maria sentia uma grande saudade de Jerusalém. João e Pedro a acompanharam. Vi ali reunidos muitos apóstolos, entre os quais Tomé; creio que fosse um concílio e Maria os confortava com o seu conselho.

Na sua chegada, ao pôr do sol, antes de entrar na cidade, eu a vi visitar o Monte das Oliveiras, o Monte Calvário, o Santo Sepulcro e todos os lugares santos em torno de Jerusalém. A Mãe de Deus era tão triste e tomada de comoção que se mantinha em pé com dificuldade e Pedro e João a sustentavam, guiando-a pelo braço.

Um ano e meio antes da sua morte, Maria ainda retornou, de Éfeso, a Jerusalém; eu a vi, oculta, visitar à noite, com os apóstolos, os lugares santos. Era indescritivelmente triste e murmurava entre soluços: “Oh, meu filho, meu filho!”.

Quando alcança a porta de trás daquele palácio onde havia encontrado Jesus caído sob o peso da cruz, dilacerada por aquelas dolorosas recordações, cai à terra inconsciente e os seus companheiros creram que ela estivesse à beira da morte.

Foi levada a Sião, ao cenáculo dos edifícios frontais, onde morava. Aqui a santa Virgem se manteve, por vários dias, tão fraca e doente e sofreu tantos desmaios que, mais de uma vez, temerem que ela morresse; em conseqüência disso, se preocuparam em preparar-lhe uma tumba. Ela mesma escolhera uma gruta sobre o Monte das Oliveiras e os apóstolos encarregaram um pedreiro de construir para ela uma bela sepultura.

Naquela ocasião, esteve outras vezes tão próxima da morte que os boatos sobre a sua partida e a preparação do seu túmulo se difundiram por Jerusalém e por outras localidades. Quando, porém, a tumba fica pronta, ela sente-se melhor e restabelecem-se as forças, o bastante, para poder alcançar, novamente, a sua casa em Éfeso, onde depois de um ano e meio, efetivamente, morre.

A tumba preparada para ela sobre o Monte das Oliveiras foi sempre tida em grande honra e, mais tarde, ali, em cima, foi até construída uma igreja, e João Damasceno (ouvi este nome em espírito... quem era, por ventura, esta pessoa?) escreve por ouvir dizer que a santa Virgem morrera em Jerusalém e aqui tinha sido sepultada.

Os particulares sobre a sua morte, o seu sepulcro, a sua assunção ao céu, Deus deixou que se tornasse objeto de uma tradição vaga e indeterminada, a fim de não oferecer argumentos à sensibilidade ainda um pouco pagã, no cristianismo de então, que teria facilmente induzido a adorá-la como uma deusa.   
        
e. Morte e sepultura de Maria

A santa Virgem repousava em silêncio na sua cela. Era toda envolta em uma longa camisola, apenas as mãos eram nuas. Nos últimos tempos, não a vi comer mais nada, senão de quando em quando uma colher de chá de um suco que a serva espremia, de um fruto de grãos amarelos, semelhante à uva, no copo posto ao lado do seu leito... À noite, quando percebeu que a sua hora se aproximava, a santa Virgem, segundo a vontade de Jesus, quis se despedir dos apóstolos, dos discípulos e das mulheres presentes...

Os homens retornaram, então, à parte da frente da casa e se prepararam para o serviço divino... Depois de ter dado a comunhão a todos os presentes, Pedro ministrou, à santa Virgem, a santa partícula e a extrema unção... Pedro se aproximou e lhe concedeu a extrema unção, relativamente, do mesmo modo como é concedida hoje: com o santo óleo que João havia trazido em recipientes, lhe unge o rosto, as mãos, os pés e a cintura, onde a roupa possuía uma abertura. Os apóstolos, entrementes, rezavam em coro...

O rosto de Maria era em flor e sorridente como quando era jovem. Havia os olhos voltados ao céu e resplandecentes de santa alegria... E eis que sua alma sai do corpo como uma pequena puríssima figura de luz com os braços estendidos ao alto e parte em direção ao céu, conduzida por um raio de luz. Creio que a morte da santa Virgem tenha ocorrido pouco depois da nona hora, a mesma hora da morte de Jesus.

Mateus e André percorrem a “Via Crucis” da santa Virgem até a última estação, até aquela gruta que representava o sepulcro do Cristo. Traziam consigo ferramentas para preparar a tumba porque ali devia repousar o corpo da santa Virgem. A gruta não era espaçosa como a tumba do Senhor e era alta apenas como um homem. Os dois apóstolos trabalharam para ampliá-la e dispuseram, também, uma porta com a qual fecharam o sepulcro. Em frente à gruta havia um pequeno jardim cercado. Não longe da li, sobre uma pequena colina, estava a estação do Monte Calvário; sobre ela não fora ereta nenhuma cruz, mas somente uma pedra; distanciava cerca de meia hora de caminhada da casa de Maria.

Hoje, vi algumas mulheres... chegarem para preparar o corpo para a sepultura. Portavam toalhas e perfumes para embalsamá-lo, segundo o uso hebraico... Após terminarem de lavá-lo, o corpo foi enfaixado dos tornozelos até o peito, com bandagens e toalhas; cabeça, peito, mãos e pés permaneceram livres... Puseram raminhos de mirra sob as axilas e a região do coração do santo corpo, circundando-o, todo o entorno e sob os pés, com a mesma erva. Em seguida, cruzaram os braços sobre o peito e envolveram o santo corpo no grande lençol fúnebre...

Agora, os apóstolos, os discípulos e todos os presentes entraram para olhar, ainda mais uma vez, o querido rosto, antes que viesse coberto...

João e Pedro a levaram, sobre os ombros, para fora da casa. Logo depois, se alternaram; na verdade, vi seis apóstolos carregarem o esquife: na frente, Tiago Maior e Tiago Menor, ao centro Bartolomeu e André, e atrás, Tadeu e Mateus. Uma parte dos apóstolos e dos discípulos presentes precedia o féretro, os demais e as mulheres o seguiam. Era já o pôr do sol e foram acesas quatro lâmpadas aos lados do caixão.

Então, o cortejo percorre a “Via Crucis” da santa Virgem até a última estação e alcança a gruta do sepulcro. Ali, o caixão foi posto em terra e o sacro corpo colocado no interior da gruta, no ponto predisposto. Todos os presentes entraram individualmente, puseram, em redor do santo corpo, perfumes e flores, se ajoelharam e ofereceram lágrimas e orações... A seguir, escavaram uma fossa em frente ao ingresso da gruta e plantaram diversos arbustos que produziam flores ou frutos; deste modo, a entrada da gruta foi deixada invisível. Deslocaram, para além da frente dos arbustos, uma fonte que corria ali perto...

Sobre a questão pertinente à data correta da morte de Maria, Anna Katharina Emmerick não é de muito ajuda. Ou melhor, é mesmo de muito ajuda, visto que propõe todo tipo de números: anos transcorridos em Éfeso, idade da morte, anos de sobrevivência de Maria em relação a Jesus... Porém, nenhum tem sentido se comparado com o que nós sabemos ou podemos deduzir racionalmente. Honestamente, nem mesmo a irmã Emmerick parecia ter confiança nos seus números intangíveis, frisando que, em suas visões, eles apareciam em letras romanas, sem alguma indicação clara do seu significado.

Em todo caso, talvez a data da morte de Maria perca importância quando Emmerick nos diz que, um tempo depois de depositar Maria na tumba, São João conduz São Tomé que se atrasara para ver a Virgem, pela última vez. Ao ingressarem no interior da gruta, eles se ajoelham e São João tira a cobertura do caixão. O corpo de Maria não estava mais no lençol fúnebre, entretanto o lençol encontrava-se ali, intacto. Eles cobriram, com cuidado, a entrada da gruta e se foram.

[continua...]

6 - A Casa de Maria: Nós a encontramos!

Donald Carrol, A CASA DE MARIA. Uma história maravilhosa: Como foi descoberta em Efeso a casa da Virgem Maria.

Tradução do italiano
Cláudia Rejane Turelli do Carmo

La Casa di Maria - Una storia meravigliosa: come fu scoperta a Efeso l'abitazione della Vergine Maria

Edição italiana
Edizioni San Paolo s.r.l, 2008
www.edizionisanpaolo.it 

Tradução do inglês
Paolo Pellizzari
ISBN 978-88-215-6227-3

Título original da obra:
MARY’S HOUSE. The straordinary story behind the Discovery of the house where the Virgen Mary lived and died. Primeira publicação na Grã-Bretanha por Veritas Book, em 2000.