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Em debate, a vida e a obra de Volpi

O Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, promove neste final de semana uma grande discussão sobre a vida e obra do pintor ítalo-brasileiro Alfredo Volpi (1896-1988). “Reflexões sobre Volpi” é o título da palestra que será realizada nesta sexta-feira (21), a partir das 19h30, por Olívio Tavares de Araújo, curador da exposição “Volpi –O mestre de sua época”, em cartaz no Museu até meados de outubro.

No sábado (22), a partir das 10h30, acontecerá uma mesa-redonda com a participação de Marco Mello, professor de Artes e Estética da Universidade Federal do Paraná (UFPR); Geraldo Leão, artista plástico e professor do departamento de Artes da UFPR; e Andrés Hernández, coordenador executivo da curadoria do Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo.

Os três participantes da mesa-redonda abordarão diferentes aspectos da obra do pintor. O professor Geraldo Leão ressalta que Volpi foi pouco compreendido e valorizado em sua época. “O ambiente crítico da época pregava um modo de pintura nacional que era o que Di Cavalcanti fazia e completamente diferente do que o Volpi fazia. Esse ambiente fez com que Volpi tivesse dificuldade de ser entendido como o artista maravilhoso que era. Na minha opinião, o melhor pintor brasileiro e, até hoje, permanece a visão simplista de ‘pintor de bandeirinha’”, afirma.

Mello pretende traçar a relação entre a obra de Volpi e os diálogos com outros artistas nacionais e internacionais, como Guignard, Di Cavalcanti e Morandi. “Pela importância e abrangência dessa exposição, podemos ver uma quantidade representativa de obras das décadas de 30 e 40, que não são tão conhecidas como das décadas de 50, 60 e 70. Isso me permitiu fazer um estudo inédito, onde estabeleço novas leituras e abordagens da obra”, explica o professor.

Complementando essas análises, Hernández, da curadoria do MAM, vai falar sobre a organização dessa mostra retrospectiva de Volpi em cartaz em Curitiba, apontada como uma das mais completas e abrangentes. A retrospectiva foi apresentada primeiro no MAM em São Paulo, passou por Buenos Aires e, desde junho, está em exibição no Museu Oscar Niemeyer.

Mostra

Com 117 pinturas em exibição, a exposição apresenta uma retrospectiva da obra de Volpi. Um empreendimento de fôlego que exibe meio século da produção do pintor, do final de 1920 ao final de 1970. Esta é a primeira mostra individual do artista em Curitiba. O curador organizou sua seleção a partir de dois focos centrais: demonstrar a atualidade da proposta artística de Volpi, “um artista intuitivo, nunca um intelectual, que se interessou pelos elementos formais como composição, luz e cor”; e demonstrar que Volpi foi “um artista original ao descobrir e inventar seus caminhos, a partir e dentro de sua própria trajetória, sem estar balizado por nenhuma determinação exterior”.

Devido à origem social de imigrante italiano, o artista não fez parte do movimento modernista brasileiro. Segundo o curador, do grupo de artistas da Semana de Arte Moderna de 22, Volpi estava separado, em primeiro lugar pela questão social. Imigrante humilde, ele “lutava arduamente pela vida”, em um momento em que os intelectuais e os patronos da Semana a realizavam.

Palestra – “Reflexões sobre Volpi – O mestre de sua época”, sexta-feira (21), a partir das 19h30.
Mesa Redonda, sábado (22), a partir das 10h30
Entrada Gratuita
Onde: Auditório do Museu Oscar Niemeyer
Endereço: Rua Marechal Hermes, 999
Centro Cívico – CEP: 80530-230
Telefone: 41 3350 4400
Horário: de terça a domingo, das 10 às 18h.

Artista

Alfredo Volpi nasceu em Lucca, Itália, em 14 de abril de 1896. Dois anos depois a família imigrou para o Brasil e foi morar no Cambuci em São Paulo, bairro onde passou toda a vida. O pai, Ludovico Volpi, abriu um pequeno comércio de queijos e vinhos para manter a família. Ainda criança, Alfredo começou a trabalhar como entalhador, encadernador e outros ofícios manuais.

Ele foi alfabetizado em italiano e falava com sotaque. Apesar de nunca ter se naturalizado, Volpi sempre dizia que o seu coração era brasileiro. Ele voltou apenas uma vez a Itália, em 1950.

O pintor ítalo-brasileiro é considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo, apesar de não ter participado da Semana de Arte Moderna de 1922.

Autodidata, começou a pintar em 1911, executando murais decorativos. Em seguida, trabalhou com óleo sobre madeira. Sempre valorizou o trabalho artesanal, construindo suas próprias telas e pincéis. As tintas eram feitas com pigmentos naturais, usando a técnica de têmpera.

Foi ainda pintor-decorador, em residências da sociedade paulista da época. Fez a primeira exposição individual aos 48 anos de idade. Segundo o curador Olívio Tavares de Araújo, Volpi não teve acesso ao movimento modernista, apoiado pela elite intelectual e social da época. “Se ele entrou alguma vez nestas residências foi de tamanco e carregando baldes de cal, para trabalhar e não para conversas inteligentes e saraus”, disse.

Bandeiras – Na década de 40, através das paisagens de Itanhaém, começou a delinear um novo caminho na pintura.

Nos anos 50 Volpi já era um pintor respeitado, principalmente pelos críticos. Neste período passou para o abstracionismo geométrico e iniciou a série de bandeiras e mastros de festas juninas. Em 1954 recebeu o prêmio de Melhor Pintor Nacional na 2ª Bienal de São Paulo e três anos depois foi um dos integrantes da 1ª Exposição de Arte Concreta.

Fez parte do prestigiado Grupo Santa Helena, assim chamado porque todos os participantes tinham como local de trabalho o palacete do mesmo nome. Faziam parte deste grupo Aldo Bonadei, Mário Zanini, Clóvis Graciano, Fúlvio Penacchi e outros que se voltaram para a pesquisa, desenvolvimento de técnicas apuradas e observação.

A partir da década de 60 as bandeirinhas passaram a ser signos, formas geométricas compondo ritmos coloridos e iluminados. Volpi morreu aos 92 anos, em 1988, em São Paulo.