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Semana Santa ressuscita Zambelli, o Michelangelo que emigrou para o Brasil

A celebração da Semana Santa serviu para, de certa forma, “ressuscitar” a lembrança de um nome que só não tem um maior destaque por exatamente ter se estabelecido na parte do planeta considerada como o terceiro mundo, mais precisamente no Brasil. Trata-se do escultor e decorador Michelangelo Zambelli, nascido em  Canneto sull'Oglio, província de Mantova, em 26 de agosto de 1883, e que, com três meses de idade, acompanhou a família que imigrou para o país, fixando residência em  Caxias do Sul (RS).

Ocorre que uma de suas obras, um  Jesus Cristo com 1m80cm,, feita nos anos 30, foi restaurada pelo  escultor André Schiavo e esteve presente na celebração da Paixão da paróquia de Santa Lúcia.

Com a cor desgastada e partes quebradas, a obra foi restaurada por Schiavo durante três meses. Trabalhando há 17 anos na recuperação de obras de arte, o escultor caxiense define em uma palavra o significado do Cristo de Zambelli: valioso.

Mesmo que ainda não tenha chamado muita a atenção dos “iniciados” da arte local e nacional, existe um espaço, em Caxias do Sul, que preserva uma representativa amostra da criação do artista italiano. Trata-se do  Memorial Atelier Zambelli, localizado no espaço interno do Monumento a Jesus Terceiro Milênio, na área onde se localizam os pavilhões da Festa da Uva. Na verdade, cabe à Festa Nacional da Uva S.A, que o adquiriu, a manutenção do espaço e à Secretaria da Cultura/DMPC, o monitoramento da visitação e a conservação das peças.

O Memorial foi  inaugurado em 16 de dezembro de 2004 e conta com cerca de 100 estátuas e 900 moldes, que foram restaurados sob a supervisão do Museu Municipal de Caxias do Sul, com apoio das secretarias de Educação e de Esporte e Lazer.  Funciona de terça a domingo, das 10h às 16h, e oferece ao visitante uma visão de um importante aspecto da história da cidade.


Filho do também escultor Tarquínio Zambelli e de Rosa Pizzon Zambelli, desde muiito cedo Michelangelo manifestou uma vocação artística. Seu pai ministrou-lhe os rudimentos do ofício e mais tarde foi enviado à Itália para se aperfeiçoar na Academia Brera de Milão. Retornou a Caxias do Sul brevemente, com 21 anos, mas logo seguiu para Buenos Aires, participando da decoração do Teatro Colón e executando outros trabalhos. Voltou a Caxias do Sul e estabeleceu seu atelier de escultura na rua Júlio de Castilhos por volta de 1914. Desde lá produziu uma infinidade de peças profanas e sacras, especializando-se porém nestas últimas, que, não obstante seguindo os padrões convencionais para representação hagiográfica e sendo em sua maioria dedicadas à multiplicação por moldes em gesso, mantinham um caráter artesanal com delicada expressividade e acabamento bastante esmerado, sendo pintadas manualmente uma a uma. Suas peças únicas apresentavam um nível de qualidade bem superior.

 
O atelier tornou-se famoso não só na cidade mas em toda a região de colonização italiana, tanto pelas suas estátuas como pelos trabalhos de decoração de igrejas, capelas e residências. Alguns de seus belos trabalhos são as estátuas de Nossa Senhora das Dores e o Nosso Senhor dos Passos, na Capela do Santo Sepulcro, a antiga imagem de Santa Teresa do altar principal da Catedral de Caxias (hoje no Museu Municipal), e a estátua da Liberdade que está instalada em uma coluna na praça Dante Alighieri, no centro da cidade.

Em 1940, após o falecimento de Michelangelo em 10 de abril, sua esposa Adelina Stangherlin Zambelli, ela própria uma artista, assumiu a direção do atelier junto com o sócio Nilo Tomasi, e continuou a tradição de seu marido. Porém, aproximando-se o século XXI o atelier entrou em declínio, e o belo casarão de madeira com oficinas anexas foi vendido em 2004.