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Brasil sem Italo Bianchi

O Brasil acaba de perder um  profissional que, em última análise, tem uma enorme parcela de responsabilidade  na constituição do portfólio nacional da propaganda e da comunicação.  Há uma semana, no dia cinco passado, um domingo, morreu Ítalo Bianchi, um italiano nascido em Milão  cuja história se confunde com a maturidade da publicidade nacional.

Para dizer adeus a Italo Bianchi, um artigo de Gisele Centenaro, publicado no Portal da Propaganda (www.portaldapropaganda.com.br ) dá a dimensão da grandeza desse italiano que, já muito cedo, envolveu-se com a comunicação social:

Ele nasceu em Milão, em 9 de fevereiro de 1924. Aos 12 anos, já estava apaixonado. Pelos meios de comunicação. Seu primeiro amor: o Corriere della Sera. Levado pelas mãos de seu pai, ao conhecer a redação do jornal se sentiu arrebatado não apenas pelo universo das letras, mas também das artes, mesmo porque Italo Bianchi viveu parte de sua infância entre óperas e esculturas. A música o embalava ao som da voz de sua mãe. O apuro estético entrou em suas veias em meio aos trabalhos que seu pai, como artista plástico, legou ao mundo. Formou-se, em 1946, em História da Arte, ano em que também começou a atuar com projetos gráficos – entre outros trabalhos, desenhou famílias de tipos tipográficos para a Fundição Nebiolo, em Turim.

Chegando ao Brasil em 1949, procurou seus pares e, a princípio, os encontrou na Companhia Cinematográfica Vera Cruz, onde atuou como cenógrafo e art director até 1954. A cenografia do longa Uma pulga na balança outorgou a Italo Bianchi o Prêmio Saci de Cinema em 1953. Tempo das artes, e da falta de dinheiro. Por amor a elas e pela necessidade dele, rumou, em 1955, para Buenos Aires, na Argentina, onde, entre outras obras, como capas de discos e livros, produziu cenários abstratos para os espetáculos de balé clássico da Companhia de Dança Ana Itelman.

Em mais uma tentativa de residir no Brasil, desta vez de todo gloriosa, Italo Bianchi retornou, um ano depois, à capital paulista, quando teve início uma das fases mais felizes de sua vida, parte dela dedicada ao jornal O Estado de S.Paulo, como diretor de arte. Surgiu de suas mãos o projeto gráfico do Suplemento Literário, que circulou pela primeira vez em 6 de outubro de 1956.

Entre jornalistas, diagramadores e publicitários, o trabalho de Italo Bianchi floresceu, inclusive no desenvolvimento, como free-lance, de peças para propaganda, design de embalagens e criação de marcas. Rapidamente, ele também se viu envolvido com o mundo acadêmico, ensinando história da arte e teoria da comunicação no Iadê. Paralelamente, fez incursões como designer no setor de móveis, idealizando projetos de linha industrial.

Inspirado por Umberto Eco, a quem conheceu pessoalmente, em 1965, ao participar de um curso de semiologia ministrado pelo filósofo e escritor, Italo Bianchi decidiu montar um estúdio de comunicação visual e criação publicitária em Recife, ideal que se tornou realidade em 1968, com trabalhos para Abaeté, MPM, Standard, dentre outros clientes. Cada vez mais aninhado na propaganda, ele assumiu a direção de criação da Proene antes de fundar, em 1971, a Italo Bianchi Publicitários Associados, juntamente com Alfrízio Melo.

O enorme sucesso da agência Italo Bianchi, até hoje uma das mais renomadas do País, engrandeceu o reconhecimento por todo o mercado publicitário brasileiro do profissional Italo Bianchi, seja como criador, seja como conselheiro de clientes que, freqüentemente, também se tornavam amigos. Mas, em 1986, ele preferiu dar um descanso ao talento em propaganda que cultivou, voltando a se dedicar às artes plásticas, como pintor, por intermédio de mergulhos na abstração geométrica, como exposto em suas obras na Galeria Ranulpho, em Recife.

Sua participação acionária na Italo Bianchi foi vendida para os demais sócios (Alfrízio Melo, Jairo lima e Joca Souza Leão) em 1995. A partir de então, além da pintura, três veículos passaram a fazer parte da sua história: Jornal do Commercio, Diário de Pernambuco e revista About. As crônicas publicadas semanalmente pelos títulos deram origem ao livro Nasceu uma rosa no meu jardim, publicado em 2003. No mesmo período, ele atuou como consultor de criação, primeiramente da Ampla Comunicação e, em seguida, para outros clientes, aceitando convite, em 2004, para exercer a função de consultor de comunicação social da Faculdade Maurício de Nassau e, posteriormente, para ser membro do Conselho Editorial da Fundação Joaquim Nabuco.

Em janeiro de 2005, o artista Bianchi se reconciliou definitivamente com o publicitário Italo, retornando à casa cujas fundações sempre terão emanações de seu coração e espírito. Ele passou, então, a atuar como consultor de criação da agência Italo Bianchi, que já havia agregado mais um sócio: Giuliano Bianchi, um de seus filhos.

No diagnóstico recente do câncer de pulmão, Italo Bianchi manifestou o desejo, atendido por familiares e amigos, de desfrutar os dias restantes na intimidade e no silêncio do lar, onde faleceu, com 84 anos, ao lado da esposa, Sonia, neste domingo, 5 de outubro, às 16:00.

Giuliano e Guido Bianchi, seus dois primeiros filhos, residem em Recife.

Rafael Sampaio vive em São Paulo, e Bruno Neuville, no Canadá, ambos filhos de seu segundo casamento com Terezinha de Abreu Sampaio.

Silvana Bianchi, filha de Italo com Sonia Bianchi, mora em São Paulo com o marido e o filho Mateus.

O corpo está sendo velado no Cemitério de Santo Amaro, no centro de Recife, onde Italo Bianchi será sepultado às 12:00 desta segunda-feira, 6 de outubro.

Eis a última frase de um artigo redigido por Italo Bianchi para a revista About em setembro de 2002:

“Quero ver mais e mais gente entretida com um livro na mão para iluminar os seus pensamentos!”