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Porta-voz da MPB

Por Paulo Celso Ferreira

Max di Tomassi é o maior divulgador informal da música brasileira na Itália

Na década de 70, músicos como Vinicius de Moraes, Toquinho e Chico Buarque passaram temporadas na Itália e ajudaram a popularizar a música brasileira no país. Décadas depois, esse papel tem novo representante: Max di Tomassi, um italiano de 41 anos que apresenta na principal emissora de rádio italiana, a Rádio Uno, o programa Brasil, ao lado de Gianluca Difuria. Com repertório dedicado à MPB, enfatizando a produção de artistas consagrados das novas gerações, como Adriana Calcanhotto, Carlinhos Brown, Marisa Monte e Arnaldo Antunes, o programa vai ao ar às sextas-feiras e tem cinco horas e meia de duração.

- O Brasil é hoje na Itália a grande alternativa à música americana e à italiana, que são as mais ouvidas. É o caso, por exemplo, de Tribalistas, que vendeu 170 mil cópias. No verão, quando estouram aquelas músicas de fácil consumo, é importante que o italiano possa ouvir também uma ou duas músicas em língua portuguesa - analisa.

Tomassi veio ao Brasil para a exposição Tropitália, inaugurada na semana passada no Centro Cultural Justiça Federal. A mostra, que exibe obras de 21 artistas contemporâneos da Itália, além dos trabalhos do designer Sergio Pappalettera, especialista em capas de discos, destaca a atividade de Tomassi como autor de versões de músicas brasileiras. Lulu Santos, Carlinhos Brown e Caetano Veloso são alguns dos compositores que tiveram suas canções vertidas por ele para o italiano.

- Toda vez que faço uma versão é quase um parto. Talvez seja até mais difícil do que escrever uma música, já que tenho muito menos capacidade de lidar com música do que Caetano Veloso ou Ivan Lins. Você tem que fazer a tradução de um autor respeitando o texto, com a mesma filosofia, dando atenção à métrica e também harmonizando a melodia e o som das palavras - explica.

O primeiro encontro com a música brasileira aconteceu aos 14 anos, quando Tomassi passava férias na Tunísia. Em uma boate, o DJ colocou o disco Dez anos depois, com sucessos de Jorge Ben. Alucinado com o suingue, ele comprou o disco e em seguida outros dois de João Gilberto:

- Amoroso foi o disco que me revelou a paixão pela música brasileira - lembra-se.

Para Tomassi, a capacidade de miscigenação, que permite traduzir qualquer estilo musical estrangeiro como se fosse local faz com que o Brasil produza uma música aberta a contaminações e sem preconceitos:

- Na Itália seria muito difícil, por exemplo, o forró ter um sucesso nacional, como teve há pouco tempo no Brasil. Na Itália só faz sucesso o pop, e este não pode ser misturado com instrumentos de folk, que é o gênero que corresponderia lá ao forró. O forró aqui é extremamente considerado, Gilberto Gil considera Luiz Gonzaga seu herói. Eros Ramazzoti nunca falaria que o herói dele é Casadei.

Convidado recentemente pela Prefeitura de Roma para fazer um festival de música brasileira na maior casa de shows pública de Roma, o Auditorium, Di Tomassi está programando um grande evento de dez dias, com um elenco de músicos novos e clássicos.

- Quero dar uma idéia mais atual da música brasileira. Mais do que simplesmente chamar a atenção levando grandes nomes, acho que a missão é também dar espaço para quem não é tão popular nem tão conhecido - explica.

No ano passado, ele recebeu do embaixador brasileiro na Itália a Cruz da Ordem do Rio Branco, conferida aos estrangeiros que se destacaram fora do Brasil na divulgação da cultura brasileira.

- Tento mostrar para os italianos que existe uma belíssima cultura do outro lado do mundo, muito próxima da nossa filosofia de vida. Tento oferecer uma imagem que vai além da prostituição, dos problemas sociais que são manchetes de jornais. É bom falar do Brasil também para evidenciar que existem lá personagens de grande sensibilidade, que batalham por uma cultura muito compreensível para o italiano.