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Roma deserta e silenciosa para vista de Bush

Por Cristina Taquini

O presidente norte-americano, George Bush, levará uma curiosa impressão da habitualmente caótica e buliçosa capital italiana, transformada para sua visita em uma cidade blindada, deserta, animada apenas pelo zumbido dos helicópteros.

As imponentes medidas de segurança que acompanharam a chegada de Bush desalentaram os romanos, que abaixaram as cortinas das lojas frente ao temos das anunciadas manifestações de repudio ao presidente norte-americano.

Os trens suburbanos e os subterrâneos viajaram durante todo o dia vazios, ao cortejo dos carros blindados de Bush e de sua comitiva atravessou ruas desertas e silenciosas para chegar ao Quirinale, o palácio presidencial, e cumprir com a visita protocolar o presidente italiano Carlo Azeglio Ciampi.

Na Fontana dei Trevi, a poucos metros do Quirinale, poucos turistas desorientados aproveitaram para tirar fotografias junto aos "carabinieri" que visivelmente tensos controlavam o que se considerava um dos pontos neurálgicos para a segurança.

O cortejo de Bush voltou a atravessar o coração de Roma, custodiado por oito mil policiais e carabineiros, para a vista ao Papa no Vaticano.

Não houve bandeiras, nem bandeirinhas, nem manifestações de entusiasmo na passagem do cortejo presidencial que chegou até as imponentes colunas de Bernini seguido pelos helicópteros da polícia, na mais absoluta solidão.

O premier italiano Silvio Berlusconi tinha improvisado poucas horas antes da chegada de seu colega norte-americano um discurso no qual confessou seus temores de atentados terroristas em Roma, gerando uma apreensão geral que nem sequer o dispositivo de segurança sem precedentes pode aplacar.

Alarmados pelos temores de Berlusconi e pelas ameaças dos grupos autônomos de bloquear os subterrâneos da capital, muitos romanos abandonaram a capital, as escolas fecharam antes da hora por falta de alunos e as clássicas "trattorie" romanas se converteram em um deserto.

Bush tampouco pôde perceber os protestos que acompanharam sua vista a capital italiana: as manifestações dos pacifistas radicais que gritaram contra sua política no Iraque, levantaram barricadas e incendiaram pneus e cestos de lixo se concentram na região próxima da universidade e no antigo bairro de San Lorenzo, afastados dos lugares onde se realizavam os ritos oficiais da viagem presidencial.

Os italianos têm uma divida de gratidão com os Estados Unidos e lembram a entrada triunfal do exército norte-americano há 60 anos em Roma, uma capital empobrecida e devastada pela guerra, que os recebeu e os condecorou como heróis.

Uns três mil soldados norte-americanos que morreram no desembarque em Nettuno estão enterrados nesta cidade, a 30 quilômetros e Roma, onde como em todos os anos receberam estes dias a homenagem das autoridades italianas.

A visita de Bush para celebrar o 60º aniversário da Libertação de Roma passará em troca para a história como um dos dias mais melancólicos desta chuvosa primavera romana, com a cidade deserta e silenciosa blindada como um forte para receber o incômodo e impopular hóspede.