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"Hipocrisia da Europa"

Em artigo publicado pela ONG Open Democracy, o renomado professor de Relações Internacionais Fred Halliday, da London School of Economics, rebate os que condenam a integração turca à UE utilizando os argumentos da ''civilização'' e dos valores morais.

''Há poucos sinais tão indignos como aqueles de Estados europeus na condição de indignação moral quanto à integração'', afirma. ''O debate revela mais da Europa do que da Turquia''.

Um argumento dos oponentes à entrada turca é o da fundação judaico-cristã da Europa. O ex-presidente francês Giscard d'Estaign e o premier italiano, Silvio Berlusconi, são apenas alguns que já usaram do artifício.

''O argumento ignora três realidades básicas'', diz Halliday: a origem cultural, política e linguística da Europa vem da Grécia antiga e de Roma, que antecedem o cristianismo. Além disso, o cristianismo e o judaísmo vieram do Oriente Médio.

Da mesma forma, impérios muçulmanos, como o Otomano, percursor do Estado turco, têm um longo histórico de tolerância com judeus e outras minorias. ''Muito mais do que a Europa cristã'', diz Halliday. ''De fato, a população permanente de 50 mil judeus na Turquia, descendentes daqueles expulsos da Espanha em 1492, é um testemunho de um dos melhores registros de tolerância a judeus''.

Ainda, a cultura atual da Europa não é cristã ou judaica, mas secular ''em tom e conteúdo, se não for hostil à qualquer religião''.

Ao mesmo tempo, muitos oponentes da Turquia na UE questionam se o Islã pode ser parte do bloco.

''Fato é que em termos de presença religiosa, o Islã tem sido parte da Europa por mais de mil anos, incluindo 800 anos na Espanha e ao menos 600 anos nos Bálcãs e na Rússia'', afirma Halliday.