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Giannini: para ver com estilo

O Itálo-brasileiro Miguel Giannini não ficou satisfeito apenas em mudar os conceitos de técnica e estética ótica, tornando-se um dos profissionais mais requisitados do Brasil, que tem entre seus clientes  presidentes da República e artistas famosos. Ele foi mais longe e criou o único museu do óculos da América, demonstrando que, efetivamente, a capacidade empreendedora, a criatividade e a competência dos descendentes de italianos sempre está associada à paixão pelo que se faz.

A técnica de atendimento personalizado, desenvolvida por Miguel Giannini tem como alicerces o conhecimento sobre técnica óptica e a visão do esteta. Descendente de italianos da Toscana e Veneza que já trabalhavam com óculos e máscaras para pilotos de avião, durante a Primeira Guerra Mundial, Miguel resgatou a atividade familiar, quase sem querer, nos anos 60. Adolescente, começou como office-boy da Foto City, antiga e famosa ótica do centro da cidade de São Paulo. Uma semana depois, era transferido para a área administrativa, depois laboratório e em poucos meses dominava todos os setores da loja.

Aos 24 anos, saiu para tornar-se um pequeno empresário ao abrir uma loja em um dos prédios da Galeria Nova Barão, junto com o amigo e excelente profissional da ótica Fioravante Fernandes. Eram tempos difíceis. Muita vontade de crescer mas pouco estoque de armações. Ao se instalar, meses depois, na nova loja da rua alta da mesma galeria, Miguel e Fiore continuavam com o mesmo problema: falta de capital para investimentos.
 
Como a variedade de modelos era pequena, porque as pessoas ainda não tinham sido seduzidas pela moda, ele começou a mudar o formato e a cor das armações.

Cada pessoa tem características físicas e psicológicas próprias. Portanto, se precisar de óculos com grau, o modelo deve seguir seu estilo ou como diz Miguel Giannini "têm de ter a cara do cliente". O que seria exatamente isso? Após ler o receituário, Miguel e atendentes analisam inicialmente seu rosto, levando em consideração alturas das sobrancelhas e nariz, formato de rosto e olhos, cor ou tonalidade da pele e cabelos. Mas não é só. Seu estilo, seu jeito de ser também é importante.

Inicialmente, fazia isso escondido no laboratório para mostrar à clientela que sua loja tinha modelos exclusivos. Mas com o tempo, entendeu que essa era a grande e única oportunidade de fazer de um trabalho em série, uma novidade que abalaria o mercado.

E assim foi. Ao atender uma pessoa, tomava dois alicates e um espiriteira e transformava uma armação comum em outra peça de estilo único. Dessa maneira, nasceu com Miguel atendimento personalizado em óculos que modificou todos os conceitos de técnica e estética ótica dentro e fora do Brasil. Passados mais de 40 anos e com 500 mil clientes atendidos, Miguel Giannini hoje é sinônimo de qualidade e bom gosto. Não fosse assim, não teria em sua agenda três presidentes da República - Sarney, FHC e Luis Inácio Lula da Silva, senadores Pedro Simon, Eduardo Suplicy, Romeu Tuma, ministros de Estado, José Dirceu, Antônio Palocci, prefeita Marta Suplicy -, secretários estaduais, deputados, artistas, Ana Maria Braga, Lucélia Santos, Mel Lisboa, Glória Meneses, Olga Bongiovani, e os jornalistas, Bóris Casoy e Carlos Tramontina.

Museu

Criado há quatro anos, o Museu dos Óculos Gioconda Giannini, o único da América, oferece aos visitantes uma viagem de sete séculos pela história.

Montada para ser apenas um passatempo, a coleção particular de Miguel Giannini transformou-se em paixão. Ao comprar o imóvel onde está instalado o Centro Ótico, cresceu a vontade de transformar seu conjunto de peças antigas em exposição permanente.

Assim, nasceu o único museu de óculos da América. A mostra permanente mostra ao visitante todas as grandes tendências. Uma dessas coleções é a chinesa do século XVIII com duas peças originais e seus estojos de pele de peixe, usadas pela aristocracia 500 anos antes de Cristo.

A réplica dos primeiros óculos, descobertos na Alemanha, final do século XIII, mostra ao visitante a origem das armações e lentes para perto e como evoluíram para os demais modelos surgidos entre o século XV e XVI.

As coleções de pince-nez e lornhons com lentes graduadas expõem a criatividade dos artesãos dos óculos que, durante séculos serviram exclusivamente às elites européias. As lornhetes representam toda a sofisticação da moda feminina entre os séculos XV e XX. Hastes fixas espiraladas ou retas só apareceram por volta de 1.600, confeccionados à mão em metal ferroso, ouro ou prata com lentes para perto ou longe.

A partir de 1.930, o conceito de óculos mudou definitivamente. Todos os modelos usados até essa década foram deixados de lado. As novas armações eram muito mais leves e elegantes. Surgia com sucesso o estilo Numont em duas versões: com aros superiores, para longe, e inferiores para perto. Os anos 70 foram férteis para a modelagem industrial. Armações plásticas enormes e coloridas transformaram-se em uniformes para jovens contestadores dos anos rebeldes. Foi a década dos longos cabelos, das mini-saias e das eternas calças de jeans.

Nessa época, foi decretadas a liberação feminina, com a pílula anticoncepcional, a abertura do mercado de trabalho e a decadência da ditadura informal das grandes Maison da alta costura européia. Ninguém obedecia à moda vigente. Cada um passou a vestir o que era mais confortável, sem se preocupar com conceito da elegância. Diante dessa revolução, os óculos seguiram a tendência que era liberdade absoluta.

Após 2.000 anos, os óculos voltaram a ser acessórios como na China antiga. O acervo do museu tem hoje cerca de 600 peças, das quais 200 em exposição.

Visite o site: http://www.miguelgiannini.com.br/