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Deputado Lorenzato denuncia o desmonte da rede consular honorária no Brasil

O deputado ítalo-brasileiro Luis Roberto Lorenzato (LEGA), que representa, no Parlamento da Itália, os italianos residentes na América do Sul, apresentou uma Interrogação, ao ministro de Relações Exteriores e da Cooperação Internacional, Luigi Di Maio, acerca dos critérios que levaram à decisão de extinguir seis consulados honorários no Brasil, o país que foi mais atingido pelos cortes, no mundo

No documento, depositado na sessão da última terça-feira (28), o parlamentar também indagou sobre o governo reconsiderar a decisão, em vista da importância da comunidade italiana cujos escritórios serviam. A Interrogação parlamentar é uma das ferramentas pelas quais o Parlamento realiza a sua atividade de inspeção e controle sobre o trabalho do governo.

O deputado Luis Roberto di S. Martino Lorenzato é Presidente da Sezione Bilaterale di Amicizia Italia-Brasile, Suriname e Guyana dell'Unione Interparlamentare (UIP) e membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados da Itália.

O documento protocolado pelo deputado Lorenzato, junto à Presidência da Câmara dos Deputados da Itália, refere-se ao decreto publicado no Diário Oficial italiano, em 18 de janeiro último, assinado pela vice-diretora geral de Recursos e Inovação do Ministério das Relações Exteriores, Patrizia Falcinelli, que declarou a eliminação de 27 escritórios consulares honorários no mundo, dos quais seis eram estabelecidos no Brasil. Foram extintos os escritórios de Aracaju (SE), Chapecó (SC), Nova Friburgo (RJ), Araraquara (SP), Franca (SP) e Limeira (SP).

No total, as 27 representações consulares fechadas foram as de Hanko (Finlândia), Kotka (Finlândia), Mariehamn (Finlândia), Klaipeda (Lituânia), Dundee (Reino Unido), Constanta (Romênia), Piatra Neamt (Romênia), Lucerna (Suíça), Saida (Líbano), Cincinnati (Estados Unidos), Nashville (Estados Unidos), Aracaju (Brasil), Chapecó (Brasil), Nova Friburgo (Brasil), Araraquara (Brasil), Franca (Brasil), Limeira (Brasil), San Pedro (Costa D'Avorio), Varadero (Cuba), Fukuoka (Japão), Nagoya (Japão), Mazatlan (México), Tijuana (México), Acapulco (México), Chisimaio (Somália), Maseru (Lesoto) e Moroni (Comores).

Brasil não é mais prioritário para a Itália

“Em toda a América do Sul, apenas o Brasil teve representações fechadas, nenhuma na Argentina, por quê?”, questiona o deputado Lorenzato. “A Itália não considera mais o Brasil um país prioritário. Os consulados honorários, as agências e os correspondentes consulares honorários, que perfaziam uma rede com bastante capilaridade, principalmente, nos estados do sudeste e do sul, estão sendo, agora, aos poucos, eliminados, por uma política errada”, afirma. “Os vice-consulados e as agências consulares, e correspondentes consulares, têm a credibilidade da comunidade e servem para promover as relações bilaterais da Itália com o Brasil, e do Brasil com a Itália e, coincidentemente, com os milhões de italianos que vivem no Brasil”, enfatiza.

O deputado da LEGA destaca que, de acordo com a Convenção de Viena, os escritórios consulares e os cargos honorários fechados pertenciam à Itália. Ele denuncia que pessoas da comunidade deveriam ter sido nomeadas para ocupar os postos vacantes. “As pessoas que deixaram de ser nomeadas poderiam estar trabalhando e prestigiando o governo italiano, em eventos e solenidades, junto a autoridades locais. Portanto, está sendo decretada, assim, a morte da comunidade consular italiana no Brasil, centralizando tudo em grandes consulados nas capitais”, assevera.

Deputado Lorenzato recorda que, em 1939, havia 79 representações consulares honorárias, no Brasil, que contemplavam, até mesmo, pequenos municípios, hoje transformados em grandes cidades.  “É um absurdo a Farnesina (Ministério das Relações Exteriores da Itália) eliminar consulados que são históricos, desde o século XIX, e suprimir esse espaço que o Itamarati, o governo brasileiro, autorizou, deu o exequátur, a autorização para que pudessem funcionar no país como extensão dos consulados gerais”, protesta. “Esses espaços que estão sendo eliminados foram concedidos pelo Brasil à Itália para a promoção das relações binacionais e isso só fortalece o Made in Italy, o turismo de retorno às raízes, enfim, a relação cultural, a promoção da língua italiana e, principalmente, o apoio ao cidadão italiano, em cada local do Brasil”, ressalta.

Atitude medíocre e arrogante da Farnesina

“A atitude medíocre da Farnesina, ao abolir essas sedes, é uma vergonha, porque elas não custam nada aos cofres da Itália. Honorário quer dizer que a pessoa que recebe o encargo, que na verdade é um trabalho, paga para trabalhar e servir à Itália”, explica o deputado Lorenzato. “Olha a arrogância da Farnesina. Quem não quer ter pessoas ilibadas para poder prover o seu país no mundo? Por que a Itália está focada em receber imigrantes clandestinos, ilegais, e não está preocupada com a nossa comunidade que está viva e em crescente aumento no mundo?”, questiona o parlamentar. “Desejo que o governo italiano respeite a nossa comunidade e nomeie os seus representantes, porque nós não somos bandidos. É impossível que nessas cidades não tenha ninguém letrado, formado, com gabarito, com prestígio para poder ser um representante honorário da Itália”, argumenta. “Ou seria um preconceito com o Brasil, com os ítalo-brasileiros?”, pergunta.

O deputado Lorenzato lembra que o Brasil está entre as 8 maiores potências mundiais da atualidade, é um país com crescimento positivo e detentor da maior comunidade italiana fora da Itália. “Sendo assim, peço ao novo embaixador da Itália no Brasil, Francesco Azzarello, que se inteire dessa problemática e peça à Farnesina para rever essa decisão e que ouça a nossa comunidade, porque não custa nada, é de graça”, argumenta. “Será que nós seremos tão arrogantes, como o governo italiano, em não aceitar interagir com uma grande potência chamada Brasil? O Brasil é uma grande reserva para a Itália, para o Made in Italy, para a cultura italiana”, finaliza.