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Futebol italiano: Pouco dinheiro e muitas novidades

A volta dos 20 clubes à série A se deve a uma manobra de dirigentes feita em 2003, quando foi montada uma Segunda Divisão com 24 clubes para a temporada 2003-04 que devia ficar reduzida em 22 para a 2004-05, com a inclusão de dois times na Primeira Divisão.

Sem dúvida, o grande beneficiado com a manobra foi o Fiorentina. Um clube que há três anos teve sua falência decretada pela Justiça Italiana e voltou à primeira divisão vindo da Série C-2 (última categoria profissional) com o nome de "Fiorentina Viola". A equipe subiu em campo da C-2 à C-1, para posteriormente -já como Fiorentina, depois que seu novo proprietário comprasse seu nome- ascender à Série B por méritos administrativos. Em junho, a equipe ficou em sexto lugar no campeonato e venceu o Perugia no desempate, levando uma das vagas na elite nacional.

Enquanto uns sobem, outros iniciarão o mesmo caminho: o tradicional Napoli, que teve craques como Maradona, também foi rebaixado por problemas econômicos. Agora, a equipe iniciará a Série C-1 com o novo nome de "Napoli Soccer".

Independente da discutida ampliação, a competição já vem marcada pelo grande número de contratações.

Curiosamente, esse número de transferências veio sem que tenham sido realizados grandes gastos econômicos, já que o antes milionário futebol da Itália não anda bem do bolso. Com isso, mais de 80% das aquisições se deram por trocas entre clubes, empréstimos ou jogadores que encerraram seus contratos e estavam com o passe livre.

Mas é claro que não faltaram as polêmicas mudanças: a mais chamativa envolve o técnico Fabio Capello -que da noite para o dia e sem avisar- deixou o Roma plantado -tinha contrato- para ir ao Juventus, clube em que atuou como jogador e ao qual disse, enquanto comandava o Roma, que não dirigiria.

Com relação aos jogadores, o Juventus deu também o último golpe -na última data disponível-, com a contratação do atacante sueco Zlatan Ibrahimovic, um dos "carrascos" da seleção italiana na Eurocopa'2004, por 19 milhões de euros ao Ajax.

E foi justamente a equipe de Turim -órfã pelo falecimento de seus grandes "patrões" Gianni e Humberto Agnelli- que mais gastou em contratações, pois o time também tirou do Roma o meio-campo brasileiro Emerson por 26 milhões de euros - a transação mais cara da temporada.

Trata-se de uma cifra mais teórica que real, pois o clube da capital italiana 15 milhões em dinheiro e fictícios 11 milhões pela "avaliação do passe" do jovem jogador Brighi -que vai para o Roma- e que, na verdade, é excessiva.

E o clube não parou: contratou ainda os franceses Kapo e Zebina (ambos com passe livre) e o zagueiro Fabio Cannavaro, trocado com o Inter de Milão pelo goleiro uruguaio Carini.

Por sua vez, o campeão Milan se reforçou de forma inteligente: aderiu ao seu já excelente elenco o zagueiro holandês Jaap Stam (pagou 10,5 milhões de euros ao Lazio), o meio-campo francês Dhorasoo (passe livre) e o atacante argentino Hernán Crespo, emprestado pelo Chelsea e grande desejo do técnico Carlo Ancelotti.

O Inter de Milão permanece, como quase sempre, um inicial teórico favorito à conquista do scudetto, que não leva desde a temporada 1988-89). A chegada de Roberto Mancini ao banco -em mais uma das muitas mudanças na era Massimo Moratti- e, outra vez, as muitas contratações voltam a colocar o time entre as grandes apostas e a aumentar o moral e esperança de sua torcida.

O Inter contratou muito e, desta vez, muito barato: aproveitou o passe livre de Mihajlovic (SEM/ex-Lazio), Edgar Davids (HOL/ex-Juventus/Barcelona), Esteban Cambiasso (ARG/ex-Real Madrid) e Favalli (ITA/ex-Lazio); emprestou o argentino Juan Sebastián Verón (Chelsea); pagou 5 milhões de euros por Burdisso (ARG/ex-Boca Juniors) e 1,55 pelo brasileiro Zé Maria (ex-Perugia).

Mesmo assim, as grandes esperanças do clube se depositam na dupla de ataque formada pelo brasileiro Adriano -considerado o novo "fenômeno"- e por Christian Vieri.

O Roma, sem dúvida, parece ter perdido terreno. As saídas de Capello, Samuel (vendido ao Real Madrid por 25 milhões de euros), Emerson e Zebina serviram para sanear a maltratada economia do clube, mas aparentemente a enfraqueceram. O comando ficará por conta do alemão Rudi Voeller, ex-jogador do clube e ex-técnico da seleção de seu país, que chegou há poucos dias para substituir Cesar Prandelli, que pediu demissão por um gravíssimo problema familiar.

Para substituir as saídas, o clube apostou na contratação de novos -e baratos- jogadores: além de Brighi, foram contratados Ferrari (ex-Parma, contrtatado por 5 milhões de euros), o francês Mexes (2,5 milhões de euros), Perrotta (7,2 milhões de euros), o egípcio Mido (6 milhões de euros). A equipe, porém, permanece uma incógnita, mesmo com suas estrelas Francesco Totti e Antonio Cassano.

Mas o clube que mais sofreu com os problemas financeiros foi o Lazio: vendeu ou perdeu os mais importantes atletas do elenco -entre eles Fiore e Corradi para o Valência- e trouxe muitos dentro da política do baixo preço dos empréstimos.

O Lazio voltou a se "argentinizar" com as chegadas de Talamonti (ex-Rosário central), González e Robert (ambos ex-Gimnasia La Plata).

Entre as possíveis "surpresas" do campeonato, pode-se apontar o Fiorentina, cujo proprietário Della Vale -um dos principais empresários do setor do calçado no país- gastou cerca de 28,4 milhões de euros para reforçar a equipe, o segundo que mais gastou.

Vieram jogadores como o japonês Nakata (ex-Bolonha), o uruguaio Guigou (ex-Siena), o dinamarquês Jorgensen (ex-Udinese, em co-propiedade), Ujfalusi (es-Hamburgo), o italiano Miccoli (Juventus, co-propiedade) e o espanhol Javier Portillo (emprestado pelo Real Madrid).