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A identidade e a imagem do vinho brasileiro

Cerca de 350 profissionais da cadeia produtiva da uva e do vinho participam do evento

O Fórum Internacional de Viticultura e Enologia (FEAVIN), realizado na última semana, durante a Semana Internacional Brasil Alimenta 2008, reuniu cerca de 350 profissionais ligados a cadeia produtiva da uva e do vinho. Diversos temas foram apresentados durante todo o dia. O programa iniciou com a palestra do Doutor e Pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, Jorge Tonietto, que falou da “Identidade do Vinho Brasileiro”. Ele destacou a imagem de qualidade dos vinhos das regiões que se evidenciam no mundo, sempre associada ao caráter diferencial de sua produção. Neste sentido, não somente a qualidade sensorial do vinho conta, mas também os aspectos ligados à região de produção e suas originalidades como as variedades, os sistemas de cultivo, a paisagem e a história. “A associação destas características forma um quadro capaz de diferenciar e, muitas vezes, conferir notoriedade aos vinhos, além, é claro, de agregar valor aos mesmos”, explicou.

O pesquisador citou como exemplo os vinhos finos Chardonnay e Riesling Itálico, ambos elaborados a partir de variedades viníferas brancas. O Chardonnay é um vinho com identidade, porém idêntico em qualquer parte do mundo. Já o Riesling Itálico pode ser distinto por ser encontrado em regiões específicas, com características particulares. O caminho que o Brasil vem percorrendo foi muito bem comparado com o histórico vivido pela Argentina, conforme apresentou o engenheiro agrônomo Carlos Domingo Catania, da Universidade Nacional de Cuyo. Catania relatou que 50% dos vinhos elaborados na Argentina já foram de variedades americanas e que o consumo per capita chegou a 80 litros em 1980. “A produção passou a ser predominantemente vinífera com o passar do tempo e o consumo per capita caiu consideravelmente, sendo que em 2007 manteve-se estabilizado em 33 litros”, explicou.

Uma das curiosidades da palestra do argentino foi a afirmação de que muitas variedades que eram cultivadas em países da Europa e que foram exterminadas devido a crise da filoxera hoje somente são encontradas na Argentina. A bandeira do país é o vinho Malbec que em 1966 era responsável por uma área cultivada de 60.000 hectares. Devido a falta de incentivos por parte do governo, a área plantada caiu para 25.000 hectares em 2006 e agora volta a ganhar força. De acordo com o engenheiro agrônomo, a variação latitudinal, a altura e as características dos solos conforme as diferentes áreas agro-climáticas permitiram a expressão diferencial das cepas formando a vitivinicultura original. “A globalização, as novas técnicas culturais e enológicas são uma ameaça que tendem a uniformizar os vinhos. As indicações de procedência são vistas como a melhor maneira de manter esta diversidade dos vinhos argentinos”, ressaltou.

A programação da manhã encerrou com o painel “Identidade na visão de quem produz”. O relato de cinco empresários mostrou o panorama do Brasil em suas diversas regiões produtoras. Jorge Garziera falou dos vinhos do Nordeste. Jean Pierre Rosier abordou a vitivinicultura de Santa Catarina, enquanto Carlos Abarzua avaliou o cenário atual da Serra Gaúcha. Os vinhos da Serra Sudeste foram apresentados por Idalêncio Angheben e o último relato foi da região da Campanha feito pelo empresário Gladistão Omizzollo.

A italiana Anne Seznec abriu a programação da tarde apresentando o tema “A Evolução dos Fechamentos para Garrafas de Vinho”, disse que existe um mercado promissor para a utilização de rolhas sintéticas e tampas de rosca. Mesmo relutando contra esta tendência, países europeus tradicionais no uso de rolhas de cortiça, já admitem sua participação no mercado. Ela citou como exemplo a Nova Zelândia, onde 90% da produção utiliza este tipo de vedante. Na Austrália este percentual é de 50%. A tendência aponta um equilíbrio maior entre o uso de rolhas de cortiça, sintáticas e tampas de rosca.

O FEAVIN também contemplou a “Arquitetura e Identidade”, assunto que foi conduzido pela arquiteta Vanja Hertcert, que relacionou a identidade da marca com os atributos do vinho, a expressão do vinicultor, as características visuais do prédio da vinícola e o design da embalagem. Para ela, num mundo em constante evolução, é natural que a vitivinicultura também sofra profundas transformações. “São novas tecnologias para aprimorar processos que necessitam espaços adequados, associando o produto final ao espaço onde ele é elaborado”, defendeu. A arquiteta foi muito mais além. Ela disse que o prédio e as instalações da vinícola influenciam o ânimo e o espírito das pessoas que lá trabalham e que a visitam, refletindo a ambição quanto ao vinho.

A última palestra do dia enfocou o consumidor de vinho no Brasil, apresentado pela Coordenadora de Projetos da Market Analysis Brasil, que detalhou alguns dados preliminares de uma pesquisa que pretende identificar o perfil do consumidor brasileiro. Os desafios do vinho brasileiro foram apresentados na visão de três comunicadores: Marcos Pivetta, Affonso Ritter e Carlos Arruda. Eles debateram a necessidade da promoção de ações de marketing institucional do vinho brasileiro, além de enaltecer ações como a da Associação Brasileira de Enologia ao realizar, entre outros eventos, a Avaliação Nacional de Vinhos e chamaram a atenção para a falta de informação ao consumidor.