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O Descendente e o Idioma

Por Salvador Scalia*

O que eu acho mesmo sobre essa questão do idioma é que contra fatos não há argumentos. E o fato é que temos no Brasil 300 mil italianos que não falam italiano sem contar com os 500 mil que aguardam a regularização nas filas. Este é um fato concreto, real. E em relação a este fato o que o Governo da Itália pode ou deve fazer?
 
Os ascendentes italianos que imigraram para o Brasil não falavam italiano e sim suas respectivas línguas regionais. Quando menino fui testemunha nos Consulados se não de má vontade, mas de uma certa gozação quando um italiano chegava falando o seu dialeto. Mas o que o pobre coitado podia fazer, ele só sabia falar aquela língua. Em relação ao italiano macarrônico a reação é a mesma.
 
O que faz com que a maioria dos italianos (não todos ainda) nascidos e crescidos na Itália falem italiano é a universalização do ensino em italiano, que foi conseguida após a segunda guerra mundial. Antes disso, principalmente nas regiões menos desenvolvidas, o acesso a uma boa educação era difícil, a maioria falava a língua local e não era o italiano.
 
O que eu sempre digo é que o Governo não pode esperar milagres, a cidadania se transmite pelo sangue (segundo a lei) mas a língua não. É necessário que sejam desenvolvidas políticas específicas de integração, utilizando toda a tecnologia de informação (TI) que a modernidade nos oferece, para que num futuro não muito distante pelo menos os descendentes desses 300 mil (+ os 500 mil) tenham acesso à cursos de italiano, podendo até condicionar a transmissão da cidadania para os mais novos à participação nesse cursos. Porque fazer esse investimento? Eu pergunto, não será bom para a Itália, em todos os aspectos, ter no futuro um milhão de italianos no Brasil falando português e italiano?
 
Não sou otimista quanto à capacidade do nosso governo de implementar essas políticas. A burocracia italiana, nós sabemos, deixa muito a desejar e pouco ainda incorporou dessa nova TI para facilitar a vida do cidadão italiano. Imagine então um programa para os italianos do exterior?
 
Um dia, quem sabe?
 
Salvador Scalia é presidente do Comitê dos Italianos no Exterior (COMITES) de Recife
sscalia@uol.com.br