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Com que roupa eu vou, na Casa Fiat de Cultura

A relação entre o vestuário e os ideais do homem moderno é o tema da exposição “Com que Roupa eu Vou”, que será aberta na próxima quarta-feira (30), na Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte. A mostra propõe ao público uma visão crítica sobre a roupa, proporcionando aos visitantes uma viagem por diferentes momentos históricos do Brasil, identificando a vestimenta como instrumento de comunicação e expressão de cada época. A visitação acontece até 5 de outubro, e a entrada é franca.

A exposição, constituída por sete núcleos, conduz os visitantes a cenários e acontecimentos privados e públicos do Brasil das últimas décadas até os dias atuais, por meio de sons, imagens e espaços interativos, numa representação do cotidiano. Assim, “Com que roupa eu vou” propõe ao público vários olhares sobre o traje com intenção de discutir as atitudes e comportamentos por ele revelados.

Umberto Eco Psicologia do Vestir: O hábito fala pelo Monge

A socióloga Gláucia Amaral, curadora da exposição, conta que um dos textos do livro do escritor italiano Umberto Eco Psicologia do Vestir: O hábito fala pelo Monge, foi importante na definição do conceito da exposição. No texto, o pensador analisa a linguagem do vestuário, seus códigos e sua importância para entender a sociedade. Em um dos trechos, cita o seguinte exemplo: “A mini-saia usada em Catânia, na Sicília, indicava uma garota “leviana”. A mesma mini-saia em Milão indicava uma garota moderna. Em Paris, simplesmente uma mini-saia, e basta. Em Hamburgo, em vez disso, num “eros zenter”, a mini-saia corria o risco de indicar um rapaz... ‘diversamente mulher’, ou seja, um travesti.” Dessa forma, Umberto Eco mostra que a roupa é ligada ao comportamento e ao estilo de cada um. 

“Gosto de fazer exposições que despertam o olhar crítico nas pessoas”, diz Gláucia Amaral. Na exposição, o público poderá se ver nos espelhos espalhados na galeria e refletir sobre o que a roupa que usam quer dizer. Segundo ela, os núcleos da Mostra usarão diferentes linguagens para estimular os vários olhares sobre o tema.

A exposição

Logo no foyer da Casa Fiat de Cultura, o público será convidado a encaixar o rosto em painéis feitos de colagens produzidos pelo ilustrador Andrés Sandoval, a partir de fotos de jornais das décadas de 50 e 60. A brincadeira lembra os fotógrafos lambe-lambes, tradicionais em praças e parques brasileiros, e transporta os visitantes para ambientes de outra época, com roupas que provavelmente jamais vestiram.

Antes mesmo de chegar à galeria, o visitante vai passar por aramados com roupas de cores e modelos bem populares. Todas penduradas, bem ao estilo “ambulantes”. As peças saíram do mercado popular da madrugada, no bairro do Brás, em São Paulo, e dos porões do Barro Preto, em Belo Horizonte, mas poderiam ser de qualquer parte do mundo, pois copiam a moda das passarelas, ainda que em tecidos mais baratos. É a roupa universal.

Na seqüência, o público terá acesso ao espaço “Esplanada”, uma sala revestida de espelhos criada para as pessoas se verem e refletirem sobre como se vestem no dia-a-dia, principalmente nos espaços públicos. Os 10 painéis de 2,50m x 3,0m expostos em toda a sala representam a relação da roupa com o ambiente público. As colagens do ilustrador Andrés Sandoval foram feitas com fotos das décadas de 1950 e 1960 - pesquisadas em arquivos de jornais - e atuais, feitas especialmente para a exposição, em junho de 2008, em Belo Horizonte, pelo fotógrafo Francilins, com produção de Bel Lüscher e Marcos Martins.

O núcleo “Noite de Gala” trata da relação entre roupa e poder. No corredor, retratados em óleos suntuosos, quadros dos beneméritos da Santa Casa de Misericórdia de Salvador (BA) vão transportar o visitante a um ambiente de alusão ao poder, com imagens impactantes que demonstram a ostentação da roupa. O ambiente de pompa e riqueza continua na sala de banquete, com seus ícones e símbolos, numa representação da sala de jantar do Itamaraty no Rio de Janeiro.

À frente da obra Coroação de D. Pedro I, do francês Jean-Baptiste Debret (1768-1848), a mesa está posta com porcelana feita especialmente para os banquetes oficiais. Os trajes originais do ex-presidente Juscelino Kubitschek e de sua mulher, Sarah, do governador Bias Fortes, assim como os dos demais personagens, e as condecorações expostas numa vitrine, retratam o cerimonial do poder e, em contraste, lembram a subversão social: numa das paredes, uma surpresa: o presidente, de casaca, caminha pelo cerrado do Planalto Central. Nem sempre a roupa certa esteve no lugar certo.

Outro destaque da exposição é a mesa da sala de jantar. Montada com pratos ligados à história do Brasil, dos tempos do Império, a mesa revela como eram servidos os mais altos representantes do poder no país. Algumas porcelanas foram encomendadas especialmente para ocasiões comemorativas, como o casamento da princesa Isabel com o conde D’Eu. Doze pratos com brasões e paisagens representam importantes momentos do Império. À frente de cada lugar, vêem-se paliteiros de prata brasileira inspirados na mitologia, na botânica, na flora, na fauna e na História, uma tradição portuguesa do século XVIII assimilada na Corte e nas casas abastadas da época. Todas as peças da composição, com exceção do mobiliário, pertencem à Coleção de Beatriz e Mario Pimenta Camargo.

Visando a perfeita sintonia com o público, foi criada para os primeiros quatro módulos da exposição uma Paisagem Sonora, ou seja, um áudio com gravações que ajudam a compor o contexto do que está sendo mostrado. Para possibilitar o exercício imaginativo e reconstituir ambientes sonoros, recorreu-se ao procedimento conhecido como collage, que se valeu de trechos de músicas consagradas das épocas abordadas, discursos políticos, jingles, telejornais e literatura. O público vai receber um áudio-guia em MP3 para auxiliá-lo durante a trajetória, além de conferir maior realidade ao contexto da mostra. Após a visita ao módulo “Noite de Gala”, o MP3 deverá ser desligado.

No Álbum, a roupa será retratada pelo olhar privado das comemorações em família. No espaço, fotos de diversas ocasiões e momentos familiares, como casamentos, batizados, solenidades e formaturas. Os álbuns serão projetados em uma tela que compõe o cenário de uma sala de audiovisual. Acomodados em cadeiras ludicamente vestidas, como se fossem elas mesmas personagens que participam da cena, os visitantes terão contato com as últimas décadas, traduzidas em cores, estampas e tecidos. Uma trilha sonora composta e gravada especialmente para a exposição pela banda mineira Pato Fu completa essa viagem no tempo. Após a projeção, o visitante terá acesso a alguns álbuns de fotografia.

O espaço “Olhar do Artista” apresentará obras de colecionadores e de museus, todas demonstrando bem o traje de cada época. As obras selecionadas são de importantes artistas modernistas, como Di Cavalcanti, Cícero Dias, Tarsila do Amaral e Djanira, que retratam o povo, a arquitetura, os costumes regionais, comportamentos e intenções.

A instalação interativa Camisetas, do artista plástico mineiro Cristiano Rennó, integra a exposição Com que Roupa eu Vou. São 132 camisetas de algodão de diferentes modelos, cores e tamanhos à disposição da imaginação do público que poderá viajar na criação e na forma de vesti-las. A instalação foi feita em 2001 e pertence ao acervo do Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte.

O último módulo é o “Brechó Eletrônico”, uma área interativa onde o visitante poderá criar sua própria composição com a ajuda da tecnologia. Na mesa Reconstructable, o público escolhe peças de roupa, penteados e acessórios masculinos e femininos de várias épocas, que são projetados em um manequim, numa tela, vestindo-o da maneira que se quiser, misturando as décadas, fazendo e desfazendo modas e gostos, usando as referências e memórias afloradas anteriormente, nas demais salas da exposição.

Debate

No dia 18 de setembro, o estilista mineiro Ronaldo Fraga e a criadora e organizadora do São Paulo Fashion Week, Graça Cabral, debaterão o tema Artes Plásticas e Moda: Tradução dos Brasis Culturais, às 19h30, no auditório da Casa Fiat de Cultura. A iniciativa faz parte das atividades do programa educativo, em parceria com a Associação Cultural Sempre um Papo.

Ateliê Educativo

Retalhos de tecido, papéis coloridos, botões e fitas poderão virar obra de arte no Ateliê do Programa Educativo, que oferece agendamento de visitas, assessoria ao professor e atividades lúdicas. Neste espaço, crianças e adultos terão a oportunidade de desenvolver seu universo criativo e habilidades manuais e participar de ações ligadas à construção da roupa.

Visitação

Para grupos e escolas agendados o ateliê vai oferecer duas atividades. A primeira, para crianças até 10 anos, consiste em uma colagem de materiais diversificados que possibilita a livre construção de identidades visuais. A segunda atividade, destinada às crianças e jovens acima de 10 anos, é um exercício de criação livre de uma vestimenta contemporânea com a utilização de tecidos monocromáticos e formas geométricas que vão compor o visual em quatro manequins.

Nos fins de semana, o público em geral terá acesso a um brechó com diferentes opções de vestuários para interagir. O agendamento para grupos e escolas poderá ser feito pelo telefone (31) 3289-8910 ou e-mail agendamento@casafiat.com.br .

Casa Fiat de Cultura

Em dois anos de atuação, a Casa Fiat de Cultura já acumula um público de mais de 90.000 visitantes, em três grandes exposições realizadas com acervos de importantes museus e coleções do Brasil e da Europa. Sua programação atende a todos os públicos - crianças, jovens, universitários e adultos -, abrangendo ainda eventos culturais como cursos, conferências, lançamento de livros, oficinas, concertos musicais, cinema e diversas outras atividades de cunho sociocultural.

 Na opinião de José Eduardo de Lima Pereira, presidente da Casa Fiat de Cultura, a exposição é uma dissertação de antropologia sociocultural. “A moda é um tema que interessa muito às pessoas e faz parte do cotidiano de todos nós. Depois de apresentar o maior painel da obra de Amilcar de Castro em Belo Horizonte, com mais de 11 mil visitantes, e inaugurar o projeto Música na Casa Fiat de Cultura, nossa proposta é levar às pessoas uma visão divertida e reflexiva com idéias inovadoras sobre o trajar-se, propiciando experiências novas ao visitante”, declara.

Ficha Técnica:

Proposição e Desenvolvimento: Expomus Exposições, Museus, Projetos Culturais

Curadoria: Gláucia Amaral

Projeto expográfico: Gerardo Vilaseca

Projeto gráfico: Rafic Farah (São Paulo Criação)

Realização: Casa Fiat de Cultura

Patrocínio: Fiat Automóveis

Parceria: Banco Real

Serviço:

Exposição Com que Roupa eu Vou
Período: 30 de julho a 5 de outubro
Local: Casa Fiat de Cultura (Rua Jornalista Djalma Andrade, 1.250, Belvedere)
Horários: Terça a sexta-feira: 10h às 21h.
Sábados, domingos e feriados: 14h às 21h.
Entrada Franca

Agendamento para grupos e escolas: (31) 3289-8910 ou e-mail: agendamento@casafiat.com.br 

Site: www.casafiatdecultura.com.br